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A grande mídia "merece perder a confiança" do público, diz Glenn Greenwald

A grande mídia "merece perder a confiança" do público, diz Glenn GreenwaldArquivo / Agência Brasil

Glenn Greenwald, jornalista norte-americano lembrado pela sua cobertura do caso Snowden e pelo vazamento de conversas apontando parcialidade de juízes e procuradores da Operação Lava Jato, realizou duras críticas à imprensa brasileira durante sua entrevista com o apresentador Igor Coelho, do Flow Podcast, no sábado. 

Ele explica que fundou o The Intercept Brasil em 2016 por considerar que estavam "faltando muitas coisas" no cenário jornalístico brasileiro: "Naquela época, sempre achei que o maior problema deste país com o jornalismo é que tudo foi controlado por quatro, cinco famílias industriais, com o mesmo interesse. Então a mesma ideologia estava dominando esses quatro, cinco veículos da mídia. Havia muito pouca dissidência".

Segundo ele, essa parcialidade mostrou-se clara durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rouseff, na qual os jornalistas teriam atuado como "ativistas". "Quase nunca estavam ouvindo pessoas contra, e isso estava me incomodando muito".

"A primeira lei da grande mídia aqui no Brasil é fingir que não tem [opinião política], e é óbvio que eles têm. E as pessoas não são burras, elas podem perceber que é uma grande fraude no meio dessa profissão", observou, apontando para pesquisas indicando que a imprensa tradicional está perdendo cada vez mais a confiança do público ao redor do mundo. "Eles merecem perder essa confiança", disse. 

"Agora a esquerda adora a Globo"

Nesse contexto, Glenn apontou para uma contradição entre segmentos da esquerda brasileira, que historicamente se posicionaram contra o Grupo Globo de comunicações, mas nos últimos anos, passaram a adorá-la:

"Há décadas, era totalmente proibido falar uma palavra favorável do Globo na esquerda brasileira. 'Globo golpista', tantos protestos em meio à esquerda brasileira. Era o vilão, o pior, com a maior maldade possível. (...) Por causa do fato que a Globo, como todas as instituições do estabilishment, odiava o Bolsonaro, porque viu ele como uma ameaça a tudo que eles valorizam, agora a esquerda adora a Globo".

Programas como o Jornal Nacional eram considerados "centros de propaganda" entre setores à esquerda, mas hoje, jornalistas como Daniela Lima e William Bonner são considerados "ótimos", disse Glenn.