Rússia alerta para riscos de uma "OTAN asiática"

Chanceler russo vê aumento das capacidades militares japonesas como ameaça à ordem mundial; EUA consideram ainda cedo discutir a criação de um bloco de defesa na Ásia.

Qualquer militarização ou tentativa de formar blocos militares traz risco de confrontação, que pode escalar para conflitos diretos, declarou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, ao comentar as declarações do novo primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, sobre a criação de uma "OTAN asiática".

"Estamos seriamente preocupados com a remilitarização do Japão. Ignorando as lições da Segunda Guerra Mundial, os líderes japoneses estão aumentando os gastos militares, modernizando suas diretrizes doutrinárias e participando ativamente dos planos dos EUA para um sistema global de defesa antimísseis", declarou Lavrov durante uma coletiva de imprensa ao fim da 19ª Cúpula do Leste Asiático, realizada no Laos, nesta sexta-feira.

O diplomata ressaltou que o Japão está expandindo suas capacidades militares e intensificando exercícios navais conjuntos com os EUA e outros membros da OTAN. Além disso, o país asiático "fala abertamente sobre missões nucleares conjuntas" com os EUA e considera aderir à AUKUS (aliança militar estratégica entre Austrália, Reino Unido e EUA), denunciou Lavrov.

"Esse desvio do desenvolvimento pacífico é preocupante e pode desmantelar o sistema da ordem mundial contemporânea", conclui.

Ainda é cedo para se falar sobre "OTAN asiática"

Enquanto isso, autoridades americanas afirmaram que ainda não é o momento para discutir a proposta de uma "OTAN asiática". Um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA disse que é "muito cedo" para falar na criação de um bloco semelhante à OTAN na Ásia, após o pedido de Shigeru Ishiba para que Washington aprofunde as discussões sobre o tema.

Ishiba defende a criação de uma "versão asiática da OTAN", unindo os diversos acordos de segurança da região em um pacto de defesa formal. "Pelo menos, devemos aprofundar nossas discussões sobre esse assunto", afirmou o primeiro-ministro.

Anteriormente, Daniel Kritenbrink, Secretário Adjunto dos EUA para o Leste Asiático e Pacífico, rejeitou a sugestão de Ishiba.

"É muito cedo para falar sobre segurança coletiva nesse contexto ou sobre a criação de instituições mais formais", disse Kritenbrink ao jornal japonês Nikkei. "Nosso foco é investir na arquitetura formal já existente na região e continuar a construir essa rede de relacionamentos formais e informais. Então veremos para onde isso nos levará", concluiu.