EUA concedem liberdade de expressão apenas aos seus cidadãos, diz Assange

Fundador do WikiLeaks denuncia aplicação extraterritorial das leis norte-americanas contra cidadãos estrangeiros.

Washington adotou uma nova e "perigosa" postura jurídica global, que restringe a liberdade de expressão no mundo apenas aos cidadãos norte-americanos, afirmou o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, em sua primeira declaração pública nesta terça-feira, desde que foi libertado da prisão britânica de Belmarsh.

"Europeus e cidadãos de outras nações não possuem direito à liberdade de expressão", criticou Assange, durante seu depoimento a um comitê da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa.

Assange observou que, segundo Washington, a legislação de espionagem também se aplica a cidadãos estrangeiros, independentemente de onde estejam no mundo.

Dessa forma, europeus que vivem na Europa estariam sujeitos às leis de sigilo norte-americanas, sem qualquer possibilidade de defesa, quando trata-se do governo dos EUA.

"Um americano em Paris pode falar livremente sobre as ações do governo dos EUA. Mas um francês em Paris estaria cometendo um crime, sem direito à defesa, e poderia ser extraditado", destacou.

O jornalista também ressaltou que seu caso evidencia a profunda interferência das agências de inteligência na repressão aos seus opositores, e afirmou que jornalistas não devem ser perseguidos por seu trabalho.

Longo caminho para a liberdade 

O jornalista australiano foi acusado de receber e divulgar centenas de milhares de documentos de guerra e comunicações diplomáticas, que revelavam detalhes sobre práticas militares questionáveis dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

Assange foi preso na prisão de Belmarsh em Londres, em 2019, após o então presidente do Equador, Lenín Moreno, autorizar a entrada de agentes britânicos para efetuar sua prisão na embaixada equatoriana em Londres, onde ele se encontrava asilado desde junho de 2012.

A juíza Ramona V. Manglona determinou em sua decisão que Assange cumprisse um período equivalente ao que já havia passado preso, tendo, portanto, já cumprido a sua pena, sem necessidade liberdade condicional.

Ele deixou o tribunal como um homem livre e, em seguida, retornou à Austrália para encontrar sua família.