"Eu falo sobre o que me interessa falar" - Lula ao ser indagado por não ter falado sobre a Venezuela na ONU

O presidente do Brasil declarou ter interesse de que a Venezuela "volte à normalidade democrática".

Respondendo a perguntas de repórteres na segunda-feira, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que não abordou o processo eleitoral na Venezuela em seu discurso na 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, uma vez que discute apenas assuntos que lhe interessam.

"Por que eu tenho que falar da Venezuela em todo lugar? Eu não falo nem da Janja em todo lugar", disse Lula, acrescentando que costuma se manifestar sobre questões que realmente lhe importam. Ele ainda falou sobre seu discurso na ONU na semana passada, afirmando que conteúdo do discurso foi exatamente o que ele queria dizer.

As declarações do presidente foram feitas no México, onde participa, nesta terça-feira, da posse da nova presidente mexicana, Claudia Sheinbaum.

Lula expressou seu interesse em que a Venezuela "retorne à normalidade democrática", ressaltando que um país que possui 1.600 km de fronteira com o Brasil é um Estado "que eu quero que esteja em paz".

O presidente brasileiro destacou que as relações diplomáticas entre as duas nações são muito fortes e que é preciso "encontrar uma forma de restabelecer uma convivência democrática". Ele também lembrou que em 2003 criou um grupo de amigos para ajudar a Venezuela a realizar um referendo.

"Portanto, eu me preocupo com a Venezuela há muito tempo, não é algo recente", afirmou Lula, ressaltando que quanto mais em paz estiver a Venezuela, mais em paz estará a América do Sul.

"É importante que tenhamos comedimento em nosso comportamento, pois se eu achar que a pessoa errou e acreditar que devo radicalizar para corrigir esse erro, criarei um caminho sem volta", declarou o presidente, enfatizando que costuma "deixar uma porta aberta" na política.

Discurso na ONU

Durante sua fala na terça-feira passada na abertura da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York, o presidente Lula abordou vários temas, incluindo a questão palestina.

Dirigindo-se à delegação palestina, que participou da sessão de abertura pela primeira vez, o chefe de Estado brasileiro destacou a "punição coletiva" imposta aos palestinos na Faixa de Gaza, que já resultou em dezenas de milhares de mortes, "em sua maioria mulheres e crianças".

Entre outros tópicos, ele comentou sobre a onda de incêndios que atingiu o Brasil, enfatizando a necessidade de "agir com urgência" diante dos eventos climáticos. Além disso, declarou que o principal objetivo de seu governo é "acabar com a fome" no Brasil.

Eleições presidenciais na Venezuela 

Anteriormente, o presidente brasileiro declarou que "não aceita" a vitória de Nicolás Maduro ou as alegações da oposição, argumentando "falta de provas" de ambos os lados.

Lula explicou que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela deveria emitir "um parecer sobre as atas" e acusou Maduro de "não ouvir" o CNE, "passando direto para a Suprema Corte".

No entanto, o presidente brasileiro enfatizou que "não questiona" a Suprema Corte venezuelana, mas considera que o parecer deveria "corretamente" passar pelo "colégio eleitoral".

Os resultados oficiais divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela confirmaram a vitória de Nicolás Maduro, com 51,95% dos votos, para um terceiro mandato no período de 2025 a 2031.