A restauração da cooperação global é impossível por causa do Ocidente, diz Lavrov

"O Ocidente pisoteou os valores inabaláveis da globalização", disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia à ONU.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse na 79ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, neste sábado, que o slogan de "reiniciar" a cooperação global, proposto pelo secretário-geral da ONU, é impossível de ser implementado "quando o Ocidente pisoteou os valores inabaláveis da globalização".

"Onde está a inviolabilidade da propriedade privada, a presunção de inocência, a liberdade de expressão, o acesso à informação, a concorrência leal nos mercados com regras claras que não mudam?", perguntou ele.

"O Secretário-Geral fala de cooperação global em um momento em que os países ocidentais desencadearam uma verdadeira guerra de sanções contra metade, se não a maioria, dos países do mundo, enquanto o dólar, que nos foi apresentado como patrimônio e bem de toda a humanidade, foi abruptamente transformado em uma arma", lamentou.

Falando sobre as hostilidades no Oriente Médio, o Ministro das Relações Exteriores da Rússia insistiu que "a matança de civis palestinos com armas dos EUA deve parar imediatamente ". Enfatizando que não pode haver justificativa para os ataques de 7 de outubro de 2023 contra os israelenses, Lavrov condenou o uso dessa tragédia "para a punição coletiva maciça dos palestinos, que resultou em uma catástrofe humanitária sem precedentes".

O enclave deve ter garantida a entrega de suprimentos humanitários, a reconstrução da infraestrutura deve ser organizada e, o mais importante, a implementação do direito legítimo de autodeterminação dos palestinos deve ser garantida, defendeu.

"Os palestinos devem ter permissão não em palavras, mas na realidade - como eles dizem, no terreno - para criar um estado territorial ininterrupto e viável de acordo com as fronteiras de 1967 com a capital em Jerusalém Oriental".

Falando sobre a ofensiva israelense, Lavrov também descreveu como "desumano" o ataque ao Líbano, no qual "tecnologias civis foram transformadas em armas mortais". Nesse contexto, o chanceler argumentou que é nítido o envolvimento "ou pelo menos o conhecimento" de Washington na preparação desse ataque terrorista.

"Esse crime deve ser investigado imediatamente, mas mesmo agora eles não podem permanecer em silêncio diante das inúmeras publicações na mídia, inclusive na Europa e aqui nos EUA, que mostram seu envolvimento no ataque israelense ao Líbano", afirmou.

A segurança é indivisível para todos, disse o chefe da diplomacia russa, que, nesse sentido, criticou a criação de alianças militares e políticas para conter a Rússia e a China. Em vez de pensar na cooperação global que o Ocidente defende, "foi anunciado o objetivo de infligir uma derrota estratégica à Rússia, quase como Londres e Washington planejaram em maio de 1945, quando desenvolveram a Operação Impensável para destruir a União Soviética antes do fim da Segunda Guerra Mundial", disse ele.

"Naquela época, isso foi mantido em segredo, mas os estrategistas anglo-saxões de hoje não escondem seus planos, embora por enquanto estejam apostando na derrota da Rússia nas mãos do regime neonazista ilegítimo de Kiev. Mas eles já estão preparando a Europa para também se lançar em uma aventura suicida".

"Não vou mencionar aqui a insensatez e o perigo da própria ideia de tentar lutar pela vitória contra uma potência nuclear como a Rússia", disse Lavrov, também descartando o desejo dos países ocidentais de seguir à risca a chamada fórmula de paz do regime de Kiev, qualificado como um "ultimato condenado".

Não é tarde demais para dar um novo fôlego à ONU, mas isso não pode ser feito por meio de cúpulas e declarações distantes da realidade, mas sim pela reconstrução da confiança com base na igualdade, resumiu o ministro das Relações Exteriores da Rússia.