Mudanças climáticas intensificam ondas de calor, seca e incêndios na América do Sul, revela estudo

Pesquisa na revista Nature revela que as mudanças climáticas triplicaram o número de dias de calor extremo na região, afetando especialmente populações vulneráveis e ecossistemas.

As mudanças climáticas estão tornando as condições ambientais cada vez mais extremas na América do Sul, que, neste ano, registrou a onda de calor mais intensa de sua história, acompanhada por uma forte seca e a propagação de incêndios florestais em larga escala no subcontinente.

Um estudo publicado na quinta-feira na revista *Nature* revelou que o número de dias com condições extremas de calor na América do Sul triplicou entre 1971 e 2022, afetando três "regiões-chave":

A pesquisa constatou que as condições extremas, resultantes da combinação de calor, seca e risco de incêndio, aumentaram nas regiões mencionadas, onde também foram identificadas mudanças no uso do solo, agricultura e desmatamento.

Por exemplo, secas extremas com calor e risco de incêndio ocorreram em média por menos de 20 dias por ano entre 1971 e 2000. Nas últimas duas décadas, esse número subiu para 70 dias por ano, principalmente no norte da Amazônia, em Maracaibo e no Pantanal, próximo à Argentina e ao Paraguai.

"O aumento dos extremos climáticos afeta desproporcionalmente populações rurais vulneráveis e minorias. Os incêndios na Amazônia, por exemplo, representam uma séria ameaça aos territórios indígenas e às suas moradias", alerta o estudo.

Impacto nos depósitos de neve dos Andes

A pesquisa também aponta que o carbono negro proveniente da queima de biomassa no subcontinente afeta e acelera o derretimento dos depósitos de neve na Cordilheira dos Andes, que são "uma fonte crucial de água para muitas pequenas comunidades rurais" em países como Argentina, Bolívia, Chile, Equador e Peru.

O relatório destaca que, "embora a variabilidade dos eventos secos na América do Sul pareça ter aumentado ao longo dos anos", ainda "não está claro como esse fenômeno vai evoluir", já que não se sabe como a região vai reagir "às futuras emissões de gases de efeito estufa".

"Os modelos climáticos, entretanto, indicam que, em um cenário provável de emissões, a frequência extrema do El Niño pode aumentar linearmente à medida que a temperatura média global sobe, chegando a dobrar em um aquecimento de 1,5 grau Celsius. Essas projeções sugerem um aumento na variabilidade dos eventos secos ao longo dos anos."

O estudo alerta que os eventos climáticos extremos causam "impactos ambientais, econômicos e sociais graves" e "podem ter efeitos devastadores" quando ocorrem simultaneamente, como se viu recentemente.

A pesquisa destaca que os extremos climáticos intensificam os danos à vegetação, elevam a mortalidade das árvores, desaceleram o crescimento econômico e afetam a saúde e a qualidade de vida de animais e seres humanos.

"Os extremos climáticos representam uma das maiores ameaças para os seres humanos e os ecossistemas. Enquanto os eventos secos incluem temperaturas elevadas, secas e incêndios, os extremos úmidos envolvem chuvas intensas e enchentes. As mudanças climáticas estão agravando a frequência, a intensidade e os impactos desses fenômenos extremos", conclui o estudo.