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Edmundo González reconhece a decisão do Supremo venezuelano que valida a reeleição de Maduro

O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, leu o original do documento no qual o ex-candidato chegou a um acordo com o governo da Venezuela.
Edmundo González reconhece a decisão do Supremo venezuelano que valida a reeleição de MaduroAP / Ariana Cubillos

O ex-candidato à presidência da Venezuela Edmundo González reconheceu a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que validou a reeleição de Nicolás Maduro, e chegou a um acordo com o governo venezuelano antes de abandonar o país rumo à Espanha no dia 7 de setembro.

A informação foi divulgada nesta quarta-feira pelo presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, durante uma coletiva de imprensa, que mostrou o original do documento que circula na mídia, que teria sido consignado pelo ex-líder da Plataforma Unitária Democrática (PUD), bloco de partidos do setor mais extremista da oposição venezuelana.

No documento de duas páginas, González reconhece os poderes constituídos na Venezuela, afirma que sua partida para a Espanha é para consolidar "a paz e o diálogo", compromete-se a não representar nenhuma instituição pública venezuelana no exterior e a ser "prudente" em suas aparições.

Esse compromisso assumido pelo ex-candidato contrasta com o desconhecimento que ele demonstrou em relação aos resultados eleitorais oferecidos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a decisão do TSJ e a presidência de Maduro, após as eleições de 28 de julho.

Na terça-feira, 17 de setembro, González se reuniu com o ministro espanhol de Relações Exteriores, União Europeia e Cooperação, José Manuel Albares, em meio a tensões entre os dois governos, o que poderia até mesmo levar a um rompimento das relações por parte da Venezuela.

O que diz o documento?

Na carta - datada de 7 de setembro e endereçada a Rodríguez, o mais alto representante da delegação do governo para as conversações com a oposição - González declara:

"Sempre estive e continuarei disposto a reconhecer e acatar as decisões adotadas pelos órgãos de justiça dentro da estrutura da Constituição, inclusive a decisão acima mencionada da Câmara Eleitoral, que, embora eu não concorde, acato por ser uma resolução do mais alto tribunal da República".

No texto, o protegido da opositora María Corina Machado garante que respeita e reconhece os cinco poderes do Estado: Legislativo, Executivo, Judiciário, Cidadão e Eleitoral.

Quanto à sua saída da Venezuela, ele afirma que tomou a decisão de pedir asilo na Espanha "para consolidar a paz e o diálogo político" e acrescenta que "há um entendimento para os respectivos salvo-condutos entre as autoridades do Reino da Espanha e as autoridades da Venezuela".

Com essa declaração, González confirma a versão dada por Caracas sobre as conversações entre os governos dos dois países para chegar a um acordo sobre sua partida para a Espanha e contradiz a versão oferecida por Madri, que sustentou na mídia que não houve trocas anteriores com as autoridades venezuelanas e que o ex-candidato da oposição havia deixado seu país como resultado de uma decisão "pessoal".

As entrelinhas

O presidente da Assembleia Nacional mostrou uma das duas cópias da carta enviada por ele, González e uma testemunha durante o contato com a mídia. Ele também compartilhou uma imagem mostrando a reunião entre os dois, juntamente com a vice-presidente, Delcy Rodríguez, e o embaixador espanhol, Ramón Santos Martínez.

Rodríguez afirmou que o governo venezuelano tem sido "cauteloso, prudente e paciente" diante das "matrizes que foram apresentadas" sobre como o ex-candidato presidencial teria deixado o país.

O deputado explicou que, nos dias anteriores à saída de González da Venezuela, o Executivo foi contatado por interlocutores próximos ao ex-candidato "para falar com o presidente Maduro sobre seu desejo de deixar o país".

O presidente encarregou o vice-presidente de realizar as conversas, que foram feitas por telefone e pessoalmente na Embaixada da Espanha, conforme registrado nas imagens mostradas por Rodríguez.

Rodríguez também mostrou imagens do avião enviado pela Espanha para buscar González, que pousou no hangar da vice-presidência venezuelana no Aeroporto Internacional Simón Bolívar, no estado de La Guaira.

A mais alta autoridade parlamentar questionou o fato de que, apesar do seguidor de Machado ter prometido no texto limitar sua atividade pública, ele manteve um telefonema com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken; reuniu-se com o ex-presidente espanhol José María Aznar e esteve no Congresso espanhol reunido com opositores ferrenhos do governo venezuelano.

"Ele cumpriu o que ele mesmo escreveu?", perguntou a si mesmo.

  • As relações entre a Espanha e a Venezuela estão em um ponto crítico após a saída de González. Há poucos dias, Caracas convocou sua embaixadora em Madri, Gladys Gutiérrez, para consultas em reação às declarações feitas pela ministra da Defesa da Espanha, Margarita Robles, que chamou o governo de Miraflores de "ditadura".
  • As autoridades venezuelanas prenderam dois cidadãos do país europeu que, de acordo com as investigações, teriam sido contratados como mercenários pelo Centro Nacional de Inteligência (CNI) para realizar atos terroristas. Isso foi negado pelas autoridades europeias.
  • Nesse contexto, os ministros das Relações Exteriores da Espanha e da Venezuela, José Manuel Albares e Yván Gil, respectivamente, mantiveram uma conversa telefônica a pedido do lado espanhol, na qual Caracas deixou claro que não tolera o desrespeito às suas instituições constitucionais.