Primeira mulher trans nas Paraolimpíadas responde às acusações de J.K. Rowling
Valentina Petrillo, a primeira mulher transgênero* a competir nos Jogos Paraolímpicos, respondeu na segunda-feira à autora de "Harry Potter", J.K. Rowling, que a tinha chamado de "trapaceira".
No início de setembro, Rowling manifestou sua indignação com a participação de Valentina nas Paraolimpíadas de Paris. "A comunidade de trapaceiros nunca teve esse tipo de visibilidade! Trapaceiros abertos e orgulhosos como Petrillo provam que a era da humilhação dos trapaceiros acabou", escreveu ela em sua conta no X.
"J.K. Rowling só se preocupa com o fato de eu usar o banheiro feminino, mas ela não sabe nada sobre mim", disse Petrillo ao The Times em uma entrevista, explicando que lutou com sua identidade de gênero a vida inteira.
A escritora, por sua vez, negou as declarações de Valentina, dizendo não estar interessada nos hábitos de higiene do atleta. "Essa não é a única coisa que me preocupa e a qualquer uma das milhões de outras mulheres preocupadas com a destruição de categorias, limites e direitos das mulheres", expliou ela.
História de Petrillo
Durante a entrevista, Valentina falou sobre sua infância. Petrillo, que na época se chamava Fabrizio, disse que era um adolescente típico, mas que sua personalidade funcionava como um disfarce protetor. "No meu primeiro dia de comunhão, eu sabia que havia algo errado quando entrei na igreja e vi as outras meninas com seus vestidos brancos, e eu queria estar com elas", contou.
"Quando eu tinha nove anos de idade, experimentei as roupas de minha mãe pela primeira vez. Eu costumava pintar minhas unhas, mas eu tinha uma prima mais velha que era transgênero e meu tio a expulsou de casa. Eu tinha medo que a mesma coisa acontecesse comigo, então escondia tudo", continuou Petrillo.
Quando tinha 14 anos, Valentina foi diagnosticada com a doença de Stargardt, uma rara doença ocular hereditária sem cura conhecida que deixou áreas escuras permanentes no centro de sua visão.
Em 2017, Petrillo disse à sua ex-mulher, Elena, com quem tem um filho, que tinha continuado a usar secretamente roupas femininas, e que não conseguia mais reprimir o que sentia ser sua verdadeira identidade. "Foi muito doloroso", lembrou atleta, acrescentando que foi diagnosticado com desordem da identidade de gênero. "Ser transgênero é considerado um transtorno mental. Não é agradável", acrescentou ele.
Depois de se submeter à terapia hormonal, seus resultados esportivos pioraram, mas Petrillo adotou o lema pessoal de que "é melhor ser uma mulher lenta e feliz do que um homem rápido e infeliz". Nas competições femininas, entretanto, enfrentou várias críticas por ter superioridade física sobre suas rivais.
*O movimento internacional LGBT é classificado como uma organização extremista no território da Rússia e proibido no país.