Mudanças e incertezas: a 'Lei Ônibus' de Milei avança em meio a negociações de última hora
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A 'Lei Ônibus' apresentada pelo presidente Javier Milei, um dos projetos centrais de seu Governo, está avançando para a fase final de seu debate parlamentar em meio a intensas negociações com a oposição "que dialoga", que ainda não garantiu totalmente seu voto a favor.
As dúvidas em torno da iniciativa adiaram mais uma vez a chegada do projeto de lei para debate na Câmara dos Deputados. Primeiro, o Governo garantiu que o projeto seria discutido na quinta-feira passada. Depois, foi novamente adiado, mas finalmente foi estabelecido que seria apenas na quarta-feira, 31 de janeiro.
Dessa forma, Milei enfrentará o dia parlamentar mais intenso desde que começou a governar em 10 de dezembro, já que a sessão, que começa às 10:00, deverá ser uma maratona. Além disso, haverá uma mobilização popular nos arredores do Congresso para pedir aos deputados que votem contra o projeto de lei.
Acaba de terminar la Conferencia de prensa donde anunciamos la convocatoria para rodear el Congreso contra la Ley Ómnibus. Ningún artículo es positivo para los trabajadores y sectores populares. Por eso, como se anunció, vamos a estar mañana martes, el miércoles o el día que se… pic.twitter.com/ubqd6FVvj1
— Alejandro Bodart (@Ale_Bodart) January 29, 2024
Desde que o presidente apresentou no final de dezembro a Ley Bases y Puntos de Partida para la Libertad de los Argentinos, que foi renomeada de 'Lei Ônibus' porque cobre centenas de leis que transformam completamente o funcionamento do Estado, ele insistiu que não negociaria, nem mudaria, nem cederia em nada.
Mas, a pressão social e política fez que, em um primeiro corte, o documento fosse reduzido de 664 para 523 artigos. Na sexta-feira, o Ministro da Economia, Luis Caputo, anunciou em uma coletiva de imprensa que, além disso, todo o capítulo sobre reformas fiscais seria removido.
Como resultado, a lei que será discutida em sessão plenária na Câmara dos Deputados contém agora apenas 386 artigos, 278 a menos dos que foram apresentados originalmente.
Otra vez la ONU advirtió sobre la ley ómnibus. Ahora el Alto Comisionado para los DDHH hizo especial foco en la criminalización de quienes participen u organicen protestas y sobre el permiso para el uso arbitrario de armas de fuego por parte de policías.https://t.co/yd5v1bTMnxpic.twitter.com/aVdi1yob56
— CELS (@CELS_Argentina) January 29, 2024
No entanto, mesmo assim, ainda não consegue-se obter o consenso de oponentes "amigáveis".
Cenários
Milei precisa do apoio dos blocos de oposição porque seu partido, La Libertad Avanza, tem apenas 38 dos 257 assentos na Câmara dos Deputados, o que é insuficiente para ter um quórum que permite o início da sessão e, acima de tudo, para que a lei seja aprovada.
Até agora, o Governo conta com o apoio incondicional dos deputados do partido Propuesta Republicana (PRO, do ex-presidente Mauricio Macri), mas só obteve o apoio parcial da União Cívica Radical e da Hacemos Coalición Federal (peronistas).
El semáforo de La Libertad Avanza. No están dispuestos a sacar de la Ley Ómnibus la privatización de las empresas públicas. Sí a negociar el Régimen de Pesca y Biocombustibles. pic.twitter.com/OqDfnS57kL
— gabyvulcano (@gabyvulcano1) January 29, 2024
Esses partidos são o que a imprensa chamou de oposição "dialoguista", "aliada", "branda", "racional", "sensata", "responsável" ou "construtiva", já que querem "ajudar" o presidente, ao contrário da Unión por la Patria (peronismo/kirchnerismo) e da Frente de Izquierda, que desde o início avisaram que votariam contra.
Na semana passada, inesperadamente, Osvaldo Jaldo, governador de Tucumán, conseguiu que os três deputados que representam essa província deixassem o bloco da Unión por la Patria e formassem um grupo próprio para votar a favor da lei.
Esse foi o resultado de uma das muitas negociações realizados entre o Governo e os governadores, aos quais também ameaçou cortar fundos se não apoiassem o projeto de lei, o que causou o debate público extremamente tenso, e que finalmente se abrandou na sexta-feira com o anúncio do Ministro da Economia sobre os novos cortes dos artigos.
PROYECTO LEY ÓMNIBUS : Tratamiento, miércoles 31/01 a las 10:00 hs. pic.twitter.com/YwK3IGZNGl
— LA RUEDA (@laruedanoticias) January 29, 2024
Dessa forma, o Governo já teve que remover os pontos mais polêmicos, como a retenção de impostos dos empresários agrícolas; a reforma eleitoral que abria as portas para o financiamento privado das campanhas e eliminava as eleições primárias para candidatos; o mecanismo de atualização das pensões; e a desregulamentação dos mercados de biocombustíveis, pesca e hidrocarbonetos.
Além disso, o Governo desistiu do desaparecimento do Fundo Nacional para as Artes (Fonca), do Instituto Nacional de Artes e Ciências Audiovisuais (Incaa), do Instituto Nacional de Música (Inamu) e da Comissão Nacional de Bibliotecas Populares (Conabip).
Resistências
Apesar dos cortes drásticos nos artigos, ainda há seções que a maioria dos deputados parece não estar disposta a endossar.
Um dos artigos mais polêmicos ainda é o que propõe a "delegação de poderes legislativos" ao Milei no âmbito da "emergência pública em assuntos econômicos, financeiros, fiscais, previdenciários, da segurança, defesa, tarifárias, energéticos, sanitários, administrativos e sociais" até 31 de dezembro de 2024, com a possibilidade de prorrogação por mais um ano.
Isso permitiria que o presidente editasse leis como quisesse nessas áreas sem a necessidade de passar pelo Congresso, o que é rejeitado por parte da oposição, apesar de o Governo já ter removido as questões previdenciárias, de defesa, sanitárias e sociais.
Outros artigos impugnados referem-se à privatização de empresas públicas ou à criminalização do protesto social, que deixaria de ser um direito constitucional e passaria a ser um crime, algo que já foi questionado até mesmo pelas Nações Unidas.
Além disso, o documento mantém a limitação do direito de greve dos funcionários públicos e os impede de serem politicamente ativos; endossa o uso abusivo de armas pelas forças de segurança para que as vítimas de violência institucional não possam processá-los pelos abusos cometidos; reduz o imposto sobre a riqueza e abre a possibilidade de cancelar a universidade a estrangeiros.