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Quem é Pavel Durov, o chefe do Telegram preso na França?

O empresário de origem russa é considerado pela Justiça francesa como cúmplice de tráfico de drogas, crimes de pedofilia e fraude devido à sua falta de restrição e cooperação com as agências de aplicação da lei, bem como às ferramentas oferecidas por sua plataforma.
Quem é Pavel Durov, o chefe do Telegram preso na França?Instagram / durov

No sábado, o cofundador e CEO do Telegram, Pavel Durov, foi detido ao descer de seu avião particular na pista do aeroporto Paris-Le Bourget. Ele teve um mandado de busca emitido pelo Escritório para Menores (OFMIN) da Direção Nacional de Investigação Criminal da França, com base em um inquérito preliminar.

A Justiça francesa considera que a falta de contenção e cooperação de Durov com as autoridades policiais, bem como as ferramentas oferecidas pelo Telegram (número descartável, criptografia, etc.), o tornam cúmplice de tráfico de drogas, crimes de pedofilia e fraude. No domingo, ele poderá enfrentar uma série de acusações, incluindo terrorismo, tráfico de drogas, cumplicidade, fraude, lavagem de dinheiro, conteúdo pedófilo, entre outras.

Quem é Pavel Durov?

Pavel Durov nasceu em Leningrado (atual São Petersburgo) em 10 de outubro de 1984. Seu pai, Valeri, era chefe do Departamento de Filologia Clássica da Faculdade de Filologia da Universidade Estadual de São Petersburgo, enquanto sua mãe, Albina, era professora na mesma instituição educacional.

Ele passou a maior parte de sua infância na Itália, onde seu pai estava trabalhando na época. Retornou à Rússia em 1992 e, a partir de 2001, estudou na Faculdade de Filologia da Universidade Estadual de São Petersburgo, especializando-se em filologia inglesa, graduando-se com um diploma vermelho. Ele também estudou programação e criou vários projetos não comerciais na Internet, como vários fóruns de estudantes.

"Zuckerberg russo"

O empresário ficou famoso em 2006 por criar, junto com seu irmão Nikolai, a rede social VKontakte (atualmente VK), apelidada de "Facebook* russo". O próprio Pavel era comumente apelidado de "o Zuckerberg russo". A VK foi inicialmente posicionada como uma plataforma para estudantes e graduados de universidades russas, mas logo ultrapassou esses limites e hoje qualquer pessoa pode se registrar. Já em 2007, o número de usuários da rede social chegou a 3 milhões, e Durov tornou-se seu conselheiro delegado, possuindo 20% de suas ações.

No entanto, no início da década de 2010, Durov teve desentendimentos com as autoridades russas, pois se recusou a fornecer ao governo dados de usuários e a cooperar com os serviços de segurança. Em suas próprias palavras, ele "tinha duas opções", a saber, "começar a fazer o que os líderes do país me disseram para fazer" e vender sua participação na VK e deixar a Rússia. O empresário escolheu a última opção: em dezembro de 2013, ele vendeu sua participação e, um ano depois, renunciou ao cargo de CEO da VK.

Em abril de 2014, Durov deixou a Rússia e obteve a cidadania de São Cristóvão e Névis ao doar 250.000 dólares para uma empresa local, o que lhe permitiu viajar sem visto para países da UE e para o Reino Unido. Deve-se observar que ele nunca esteve nesse país caribenho, pois pode receber sua cidadania sem sair da Europa. Em 2021, soube-se que o empresário obteve a cidadania francesa.

Telegram

Em 2013, Pavel e seu irmão introduziram o serviço de mensagens criptografadas Telegram, que permite enviar uma mensagem que ninguém pode ler, exceto o remetente e o destinatário. Inicialmente, a sede da empresa era em Berlim, mas em 2017 foi transferida para Dubai (Emirados Árabes Unidos) devido à ausência de impostos nos emirados. Deve-se observar que, em 2022, Durov recebeu um passaporte dos Emirados Árabes Unidos.

Por outro lado, o serviço de mensagens tem estado no centro da controvérsia devido ao seu uso por grupos terroristas. Em 2018, o Judiciário russo ordenou que o Telegram fosse bloqueado por reclamações legislativas devido aos parâmetros técnicos do sistema de criptografia. A plataforma foi bloqueada na Rússia entre 2018 e 2020.

Deve-se notar que, em 2015, Drurov confirmou que o Estado Islâmico** usa o Telegram, mas apontou que o movimento jihadista sempre encontrará uma maneira de fazê-lo, com esse aplicativo ou com outro meio. Em suas palavras, é por isso que ele não acredita que sua empresa esteja participando dessas atividades."Ainda acho que estamos fazendo a coisa certa ao proteger a privacidade dos usuários", disse.

De acordo com a empresa, no mês passado o Telegram atingiu 950 milhões de usuários ativos mensais em todo o mundo. Em abril passado, em uma entrevista com o jornalista norte-americano Tucker Carlson, Durov observou que sua rede social estava "se espalhando como fogo". Segundo ele, o aumento nos números se deve à qualidade da plataforma e, consequentemente, ao fato de que aqueles que a utilizam estão aconselhando seus amigos a experimentá-la, o que está expandindo gradualmente o número de usuários. "As pessoas percebem que, independentemente dos aplicativos de mensagens que estejam usando no momento, eles estão cinco ou seis anos atrasados", enfatizou.

Na entrevista com Carlson, Durov, cuja fortuna foi estimada pela Forbes em 15,5 bilhões de dólares, também revelou que o governo dos EUA tentou criar uma "porta dos fundos" no Telegram para espionar seus usuários. Segundo ele, o escrutínio excessivo do FBI e dos serviços de segurança dos EUA foi uma das razões pelas quais ele abandonou a ideia de estabelecer a empresa na cidade de São Francisco, sede de grandes empresas de tecnologia.

*Classificada na Rússia como uma organização extremista, cujas redes sociais são proibidas em seu território.

** Reconhecido na Rússia como um grupo terrorista.