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Boric sobre a Venezuela: "Não podemos cometer o mesmo erro que com Guaidó"

O presidente chileno manteve seu tom duro contra Caracas, mas garantiu que ainda não reconheceria o líder da oposição Edmundo González como "presidente eleito".
Boric sobre a Venezuela: "Não podemos cometer o mesmo erro que com Guaidó"X@GabrielBoric

O presidente do Chile, Gabriel Boric, mais uma vez se pronunciou sobre a Venezuela, em meio a tensões com Caracas sobre não reconhecimento de Santiago em relação aos resultados oficiais das eleições, que certificam a vitória do presidente Nicolás Maduro.

"Eu, pessoalmente, e esta é a posição do Governo do Chile, não tenho dúvidas de que o regime de Maduro tentou cometer fraude, caso contrário, eles teriam mostrado as famosas atas. Por que não o fizeram? Se tivessem vencido, é claro que teriam mostrado as atas", disse Boric em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira, no Palácio de La Moneda.

A declaração aumenta as tensões nas relações com a Venezuela. No entanto, o mandatário chileno esclareceu que seu desconhecimento dos resultados das eleições, até que sejam "validados por órgãos independentes", não implica um reconhecimento tácito do oposicionista Edmundo González, que se autoproclamou nesta semana como "presidente eleito".

"Não podemos, como comunidade internacional, cometer o mesmo erro que foi cometido na época com Guaidó", enfatizou Boric, referindo-se ao ex-deputado da oposição Juan Guaidó, que se proclamou em uma praça como "presidente encarregado" da Venezuela em 2019, graças ao apoio dos EUA e de outros 50 países, incluindo o Chile.

"Na política internacional, temos que ser extremamente cuidadosos", apontou. Nessa linha, que coincide com a dos EUA, Boric expressou sua confiança nos esforços de terceiros países que dialogam com as partes na Venezuela para "negociação e diálogo".

A posição do Chile foi respondida pelo chanceler venezuelano, Yván Gil, que acusou Boric de estar alinhado "à direita do [presidente argentino Javier] Milei e do Departamento de Estado dos EUA". "Sua máscara caiu definitivamente, seu governo pinochetista e golpista está nu", escreveu o ministro na rede social X.

Confronto tenso

Na terça-feira, o Chile acusou a Venezuela de "perseguir criminalmente" os líderes da oposição Edmundo González e María Corina Machado, depois que ambos publicaram uma declaração na qual negavam os resultados das eleições, reivindicavam a vitória nas urnas - sem provas verificáveis - e pediam a insurreição dos militares e da polícia.

A declaração provocou a reação imediata de Gil. "Quem pedir um golpe de Estado no estilo [Augusto] Pinochet, será investigado e julgado em nosso país. Se você se rendeu e cedeu a essa prática, isso é problema seu, não nos envolva em suas falhas ideológicas e democráticas", escreveu o ministro em uma mensagem para Boric.

O chanceler venezuelano também acusou o mandatário e seu governo de se ajoelharem "diante dos excessos da ultradireita e do fascismo", ao mesmo tempo em que garantiu que em seu país há "um Estado forte e um sistema de justiça que protege o povo e não o persegue", como, em sua opinião, seria o caso do Chile, "onde ser de esquerda é muito perigoso".

Hoje, Boric reiterou suas acusações contra o governo venezuelano, mas disse que não responderia a "declarações ridículas".