Primeiro-ministro do Japão não menciona os EUA em cerimônia relembrando ataque nuclear em Hiroshima

Fumio Kishida falou sobre "a ameaça nuclear da Rússia" ao invés de lembrar que Washington lançou uma bomba atômica na cidade em 1945.

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, evitou mencionar o papel dos EUA em um discurso dedicado ao 79º aniversário do bombardeio nuclear de Hiroshima.

Os EUA são o único país da história que usou armas nucleares em um conflito armado. Em 6 de agosto de 1945, um avião de guerra americano B-29 lançou uma bomba atômica sobre Hiroshima, matando dezenas de milhares de pessoas, a maioria civis. Outra bomba nuclear foi detonada sobre a cidade de Nagasaki em 9 de agosto. Estima-se que mais de 200 mil pessoas foram mortas no total. Os ataques devastadores levaram o Japão a se render aos Aliados uma semana depois, o que pôs fim à Segunda Guerra Mundial.

"Há 79 anos, uma bomba atômica privou de suas preciosas vidas mais de 100.000 pessoas. Ela reduziu a cidade a cinzas e privou impiedosamente as pessoas de seus sonhos e futuros brilhantes. Mesmo aqueles que escaparam da morte sofreram dificuldades indescritíveis", disse Kishida em seu discurso aos participantes durante a cerimônia no Parque Memorial da Paz de Hiroshima, nesta terça-feira.

No entanto, o primeiro-ministro não disse diretamente qual país foi responsável por atacar a cidade com armas nucleares e causar tamanha "devastação e sofrimento humano".

"Como o único país que vivenciou o horror da devastação nuclear em uma guerra, o Japão tem a missão de... aumentar constantemente os esforços ao longo do tempo para a realização de um mundo sem armas nucleares", declarou.

De acordo com Kishida, o mundo está atualmente em "um ponto crítico em que a tendência de redução do número de armas nucleares pode sofrer uma reversão pela primeira vez desde o auge da Guerra Fria".

"A divisão cada vez maior dentro da comunidade internacional sobre as abordagens para o desarmamento nuclear, a ameaça nuclear da Rússia e outras preocupações tornam a situação em torno do desarmamento nuclear ainda mais desafiadora", disse ele.

Todo o discurso teve muitas semelhanças com o discurso proferido pelo primeiro-ministro japonês há um ano, no qual os EUA também não foram mencionados.

Tóquio tem sido um aliado de Washington desde que os EUA ocuparam o território do Japão e redigiram a constituição do país após os bombardeios nucleares.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também ignorou o papel dos EUA no bombardeio de Hiroshima em sua mensagem dedicada ao aniversário. "Não devemos esquecer as lições de 6 de agosto de 1945", escreveu ele no X (antigo Twitter), acrescentando que as armas nucleares "representam um perigo real e presente".

Na semana passada, o secretário assistente interino de defesa dos EUA para política espacial, Vipin Narang, afirmou que Washington deveria "se preparar para um mundo em que as restrições aos arsenais de armas nucleares desaparecessem completamente" devido ao armamento nuclear chinês, à cooperação entre a Rússia e a Coreia do Norte e ao suposto desenvolvimento de armas nucleares antissatélite por Moscou.