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Em Washington, Celso Amorim critica as sanções impostas contra a Rússia

O brasileiro relembrou que "a única entidade" que deve impôr sanções é o Conselho de Segurança da ONU, em referência às leis internacionais.
Em Washington, Celso Amorim critica as sanções impostas contra a RússiaAP / Eraldo Peres

Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula da Silva para assuntos internacionais, destacou a natureza ilegal das sanções impostas contra a Rússia durante a sua participação em um fórum de política externa organizado pelo think-thank Carnegie Endowment em Washington, capital dos EUA, nesta semana.

"Você não pode impôr sanções do jeito que é feito pela Europa ou pelos EUA. Teria de ser o Conselho de Segurança [da ONU], que é a única entidade [capaz de fazer isso]", afirmou. "Se o Conselho de Segurança não consegue fazer isso, reformem-no, mas não usem subterfúgios".

Nesse contexto, o ex-ministro das Relações Exteriores apontou para a irracionalidade de pensar que o gigante euro-asiático pode ser destruído através de sanções. "Vocês não vão destruir a Rússia". Mesmo que esse objetivo não seja abertamente declarado, "tudo o que vocês estão fazendo vai nessa direção. E isso nunca aconteceu", argumentou.

"Muitas pessoas importantes disseram que precisamos destruir a Rússia". (...) E o que vem depois? Eu nem quero imaginar a Chechênia, o Daguestão, se tornando países independentes e se tornando focos de um novo tipo de Al-Qaeda. E aí o que vocês fazem? Então eu acho que vocês precisam ver as coisas de um jeito mais realista".

Em um apelo pelo diálogo, Amorim destacou a importância de figuras como Henry Kissinger, que apesar de "muito criticado na América Latina", via as coisas "de um jeito mais pragmático".

"Eu acho que precisamos de pessoas que conseguem falar com os dois países", afirmou, em referência à Rússia e à Ucrânia. "Deve haver um ponto em que os dois lados convergem, e é isso que precisamos fazer".

A proposta do Brasil para o conflito ucraniano, elaborada conjuntamente com a China e apoiada por mais de 100 países, postula as negociações como a única solução viável para a crise ucraniana, e defende a realização de uma conferência internacional de paz reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia.

Esse ponto mostra-se especialmente relevante diante da exclusão da Rússia da primeira "cúpula de paz", que foi realizada na Suíça sem a presença de representantes de Moscou para satisfazer as exigências do regime ucraniano.