O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, abordou várias questões atuais e desafios enfrentados pelo bloco econômico, participando da 64ª Cúpula de chefes de Estado do Mercosul e de Estados Associados, realizada nesta segunda-feira, em Assunção, no Paraguai.
Bolívia como novo membro
Durante seu discurso, Lula comentou sobre a tentativa de golpe na Bolívia, citando "interesses reacionários" por trás do evento.
"Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses reacionários", manifestou o presidente, acrescentando que "enquanto nossa região seguir entre as mais desiguais do mundo, a estabilidade política permanecerá ameaçada".
Segundo o mandatário, "a adesão plena da Bolívia tem enorme valor estratégico e faz do nosso bloco ator incontornável no contexto da transição energética". Também declarou que os Estados membros do Mercosul são ricos em recursos minerais e possuem abundantes fontes de energia limpa e barata, e podem se tornar "um elo importante na cadeia de semicondutores, baterias e painéis solares".
Desafios da América Latina
O presidente defendeu o valor do Estado como "planejador e indutor do desenvolvimento" e destacou que a democracia na Bolívia prevaleceu graças à firmeza do seu Governo, "à mobilização do seu povo e ao rechaço da comunidade internacional".
Lula declarou que o livre-mercado não é uma panaceia para a humanidade, e quem conhece a história da América Latina reconhece o valor do Estado como "planejador e indutor do desenvolvimento".
"Nunca nos deparamos com tantos desafios, seja no âmbito regional, seja em nível global", opinou, explicando que nos últimos anos os conflitos e disputas se sobreponham "à vocação de paz e cooperação".
"Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria", manifestou o líder brasileiro, alegando que não vê contradição entre participar da economia global e cooperar entre vizinhos.
Segundo o presidente, a aposta no Mercosul como plataforma de inserção internacional e de desenvolvimento do Brasil "permanece inabalável", sendo um projeto ambicioso que "gerou muitos frutos desde seu lançamento".
O comércio entre os países da organização multiplicou-se dez vezes fazendo hoje 49 bilhões de dólares, destacou o presidente, ressaltando que é preciso de uma integração regional profunda, baseada no trabalho qualificado e na produção de ciência, tecnologia e inovação para geração de emprego e renda.
Inteligência Artificial
O presidente brasileiro voltou a defender o desenvolvimento regional de uma Inteligência Artificial.
"A governança regional de dados no Mercosul é vital para nossa soberania futura e para o desenvolvimento da Inteligência Artificial", sublinhou.
Segundo ele, "é preciso habilitar nossa região a desenvolver capacidade própria de coletar, processar e armazenar dados, insumo fundamental para avançar no desenvolvimento tecnológico e na digitalização da indústria regional".
O mandatário brasileiro também abordou a questão da crise climática.
"No último um ano e meio, vivemos secas históricas na Amazônia, nos Pampas e no Pantanal brasileiro e boliviano, que também padeceram com incêndios nos últimos dias", detalhou.