Na segunda-feira, entrou em vigor o aumento no imposto brasileiro sobre a importação de carros elétricos, que subiu de 10% para 18%. No ano que vem, o percentual cresce para 25%, e a partir de 2026, alcançará 35%.
De acordo com Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, trata-se de um reajuste programado, com o objetivo de atrair investimentos e incentivar a produção de veículos eletrificados em território brasileiro. Para justificar os valores, o ministro comparou os números com a taxa de 100% imposta por Washington contra os carros elétricos de Pequim.
Demandas das fabricantes no Brasil
Em abril, o Brasil tornou-se o maior comprador de veículos elétricos chineses. O marco ocorre em um momento em que os EUA e a União Europeia estabelecem cada vez mais restrições contra o setor, sob o argumento de que a "supercapacidade" da China estaria levando ao excesso de mercadorias a preços baratos, colocando em risco as indústrias do Ocidente.
As fabricantes de carros que operam no Brasil reagiram ao cenário através de uma campanha contra uma suposta "afluência descontrolada" de veículos chineses. Em uma carta enviada ao presidente Lula da Silva, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) queixa-se de um "avanço contumaz" de tais importações.
"Não estamos diante de uma estratégia de marca ou de uma briga contra as chinesas. Todas as empresas que fabricam aqui possuem unidades na China. A nossa estratégia é de defesa da produção local", argumentou Márcio Leite, presidente da Anfavea e vice-presidente da Stellantis, dona de marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroen.
Lado chinês
Pequim tem minimizado os impostos aplicados por Brasília contra seus produtos. No final de junho, ao ser indagada sobre as tarifas impostas pelo Brasil contra o aço chinês, a porta-voz Mao Ning destacou sua confiança de que "ambos os lados podem lidar bem com as questões relevantes":
"A China e o Brasil são, respectivamente, os maiores países em desenvolvimento do Hemisfério Oriental e do Hemisfério Ocidental. Ambos os países apoiam firmemente o livre comércio e se opõem ao protecionismo, e estão ativamente comprometidos com o crescimento sólido e constante do comércio bilateral", disse na ocasião. "Tanto a China quanto o Brasil se beneficiam dos laços comerciais", acrescentou.
Já diante das acusações de supercapacidade, analistas chineses tradicionalmente destacam o potencial benéfico do livre comércio, que diversifica as opções dos consumidores. "Se os países produzissem apenas o suficiente para atender à sua demanda interna, não haveria comércio internacional'', argumenta Xin Ping na agência Xinhua.
"À medida que a China cresce e sobe na cadeia de valor global, o Ocidente fica chocado com sua capacidade emergente e competitividade de mercado. Não houve reclamações sobre o 'excesso de capacidade' da China no passado porque os capitalistas tinham interesses particulares [na globalização]", conclui.