Cientistas do British Antarctic Survey (BAS) e da Universidade de Oxford destacaram um processo que está causando o derretimento da capa de gelo da Antártica e que, até agora, não foi considerado nos modelos científicos usados para prever o aumento futuro do nível do mar. O novo estudo, publicado na terça-feira na revista Nature Geoscience, adverte que as projeções atuais podem subestimar significativamente o problema.
Descobriu-se que a água quente do oceano pode penetrar em longos trechos sob a capa de gelo na chamada "linha de aterramento", a área onde o gelo do oceano repousa sobre a massa terrestre, e forma cavidades. Como resultado, a água penetra ainda mais fundo e aumenta o derretimento, forçando o líquido resultante a fluir para o oceano.
Assim, mesmo um pequeno aumento na temperatura do oceano pode aumentar muito o derretimento, um aspecto que atualmente não é levado em conta nos modelos de aumento do nível do mar, que pode subir ainda mais do que o projetado nas próximas décadas. Por outro lado, as consequências não seriam sentidas imediatamente, mas se acumulariam ao longo de dezenas e centenas de anos, ameaçando as comunidades costeiras em todo o mundo.
Os pesquisadores sugerem que o aumento da temperatura do oceano pode levar à ultrapassagem de um "ponto de inflexão", no qual a água no oceano penetrará ilimitadamente sob a capa de gelo por meio de um processo de derretimento descontrolado.
"A cada décimo de grau de aquecimento do oceano, nos aproximamos cada vez mais desse ponto de inflexão, e cada décimo de grau está ligado à quantidade de mudança climática que está ocorrendo", disse Alex Bradley, pesquisador de dinâmica do gelo da BAS e principal autor do estudo, segundo o The Guardian. "Portanto, precisamos de medidas muito drásticas para restringir a quantidade de aquecimento que ocorre e evitar que esse ponto de inflexão seja ultrapassado", alertou.