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Inicia-se a primeira rodada de negociações entre o Governo da Colômbia e a Segunda Marquetalia

O grupo armado, que abandonou o acordo de paz de 2016, retorna à mesa de negociações, quase cinco anos depois de entrar na clandestinidade.
Inicia-se a primeira rodada de negociações entre o Governo da Colômbia e a Segunda MarquetaliaRedes Sociais

O processo de diálogo entre o Governo da Colômbia e a Segunda Marquetalia, bloco das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) que assinou o Acordo de Paz de 2016 e o abandonou em 2019, começou nesta segunda-feira em Caracas.

A abertura da reunião na capital venezuelana contou com a presença de Luciano Marín, conhecido como 'Iván Márquez', comandante da 'Segunda Marquetalia', que fez sua primeira aparição pública, depois que o Governo de Iván Duque, em 2022, o deu como morto ao ser atacado pelo Exército colombiano, segundo um comunicado do grupo armado.

Em uma declaração conjunta de nove pontos, lida nesta segunda-feira entre as partes, foi informado que se espera que este primeiro ciclo, que vai de 25 a 29 de junho, defina os temas da Agenda para a paz previamente acordada, os protocolos de negociação e as primeiras decisões sobre as medidas e ações para contribuir para o progresso na desescalada do conflito e nos alistamentos territoriais para a paz.

"As partes reafirmam seu compromisso com a busca de um acordo de paz para a Colômbia e convidam o país a se apropriar e participar do processo de forma construtiva", diz o documento.

Nesse dia foi ratificado que a equipe de negociação do Governo é composta pelo ex-governador de Nariño, Parmenio Cuéllar; os advogados María Camila Moreno e Gabriel Bustamante; a Dra. Gloria Arias Nieto e o coronel aposentado Jaime Joaquín Ariza. O empresário Tulio Gómez foi nomeado como apoio.

Do lado da Segunda Marquetalia, a delegação é liderada por José Vicente Lesmes, conhecido como 'Walter Mendoza', e é composta por: Jurleny Guerrero, Andrés Allende, Andrés Rojas, Jairo Marín e Andrés Guerrero.

Também estiveram presentes na instalação da mesa de diálogo o Ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil; o assessor do Comissário da Paz, Otty Patiño; representantes de Cuba, Noruega e Venezuela, países acompanhantes; membros da delegação especial do Secretário das Nações Unidas e da Conferência Episcopal Colombiana.

Cumprimento total do que foi acordado

No discurso de posse de 'Walter Mendoza', afirmou que, como uma "nova organização guerrilheira", esperava conseguir um acordo de paz sem nenhum tipo de armadilha, visando que "o que foi acordado seja cumprido integralmente pelo Estado como um todo".

Da mesma forma, declarou que a organização não tem intenção de lidar com "um acordo que já foi assinado e que ainda está esperando para ser cumprido".

Em seu discurso, Márquez lembrou que "quase cinco anos se passaram" desde o surgimento do grupo armado que ele lidera "em resposta ao descumprimento e à traição do Estado ao Acordo de Paz de Havana e à prisão judicial do brilhante porta-voz da guerrilha na mesa, Jesús Santrich".

Referiu-se ainda às "baixas sensíveis" nessa organização, como as de Santrich, Hernán Darío Velásquez, vulgo 'El Paisa' Oscar, Henry Castellanos Garzón, vulgo 'Romaña' e 'Iván Merchán', entre outros.

Pontos-chave

No início do mês, circularam imagens de uma reunião entre 'Iván Márquez', o Alto Comissário para a Paz, Otty Patiño, o chefe da delegação de negociação do Governo, Armando Novoa, e 'Walter Mendoza', o segundo no comando da organização armada.

Após a reunião na capital venezuelana, as equipes de negociação assinaram um documento que delineia as principais linhas do processo que irão promover, a saber: desescalada do conflito e preparação de territórios de paz; construção de territórios de paz; concepção das vítimas como um sujeito social transformador; geração de condições para a coexistência pacífica; e implementação e verificação.

Ambas as delegações estabeleceram que suas abordagens se basearão em nove pontos, entre os quais estão: o consenso de que "acordo pactuado, acordo cumprido"; uma ampla mobilização social para avançar rumo a um Grande Acordo Político Nacional; priorizar o diálogo com empresários, fazendeiros e comerciantes; proteger o meio ambiente, a selva, os rios e a fauna; e incentivar os esforços para deter a mudança climática.

Da mesma forma, o Governo considera positiva a rejeição da Segunda Marquetalia às retenções econômicas e que adotará medidas para fortalecer o desanuviamento do conflito nas áreas onde o grupo armado atua.

A Segunda Marquetália

Segundo um relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), esse bloco armado é formado por onze subestruturas que operam principalmente no sudoeste do país. Além disso, de acordo com um relatório do El Colombiano que cita a ONG, a Segunda Marquetalia tem atualmente 1.751 membros; 1.162 estão em armas e outros 589 em redes de apoio.

Esse grupo armado, que também foi comandado pelo falecido Seuxis Pausias Hernández Solarte, conhecido como "Jesús Santrich", reúne facções armadas, de acordo com El Espectador, como a Coordinadora Guerrillera del Pacífico, os Comandos de la Frontera e a Direção Nacional. O mesmo meio de comunicação informa que, embora sua capacidade militar tenha sido reduzida, sua pequena influência territorial pode estar entre as organizações armadas com maior poder econômico, atrás do Clã do Golfo.

Uma das questões pendentes é o tratamento judicial que será dado à Segunda Marquetalia. Aqueles que nunca aderiram ao Acordo de Paz são considerados dissidentes e podem ser cobertos pelo sistema de justiça transicional, enquanto os desertores que abandonaram o que foi assinado em 2015 teriam que cumprir seus compromissos perante o sistema de justiça comum, pois traíram o que haviam concordado.