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Sanções dos EUA contra a Bolsa de Valores de Moscou: o último adeus ao dólar?

Apesar das contínuas tentativas de Washington de isolar Moscou do sistema financeiro internacional, o Banco Central da Rússia ressalta que as últimas sanções não terão um impacto significativo sobre a economia do país, já que o papel do dólar no mercado russo vem diminuindo constantemente e outras moedas agora prevalecem.
Imagem ilustrativa123RF

Na semana passada, os EUA anunciaram novas sanções contra instituições financeiras russas, incluindo a Bolsa de Valores de Moscou (MOEX), a maior bolsa de valores da Rússia, que, por sua vez, declarou quase imediatamente que está suspendendo as negociações em dólares e euros.

O anúncio de novas restrições com o objetivo de isolar a Rússia do sistema financeiro internacional não foi uma grande surpresa. Já no ano passado, a chefe do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiulina, informou que a instituição "avalia os riscos" das sanções contra a MOEX e "sabe quais medidas tomar nesse ou naquele caso".

Como a Bolsa de Valores de Moscou operará após a imposição de sanções

A Bolsa de Valores de Moscou é dividida em vários mercados de negociação, um dos quais é o mercado de câmbio, por meio de cujos indicadores o Banco Central define a taxa de câmbio oficial para moedas estrangeiras usadas, por exemplo, em transações com empresas estrangeiras ou pagamentos durante viagens turísticas ao exterior.

Esse processo ocorre da seguinte forma: as taxas de câmbio são definidas a partir da coleta de lances e ofertas de compra e venda de moedas estrangeiras. Os exportadores vendem moeda estrangeira para financiar despesas operacionais, dividendos e impostos, enquanto os importadores a compram para pagar por produtos estrangeiros. As partes oferecem o preço pelo qual estão dispostas a comprar ou vender a moeda estrangeira e, quando os preços coincidem, o valor médio dessas transações constitui a taxa de câmbio.

Enquanto isso, o Banco Central da Rússia já garantiu que a interrupção das transações em dólares e euros não complicará esse processo. A taxa agora será calculada com base nas transações no "mercado de balcão", que são realizadas diretamente entre bancos, incluindo bancos estrangeiros, e com clientes. Assim, o Banco Central usará como taxa oficial a taxa média baseada nas informações recebidas diariamente dos bancos.

Além disso, de acordo com o Banco Central, devido ao declínio da participação do dólar e do euro no mercado russo desde 2022, o yuan já se tornou a principal moeda nas transações de câmbio. Nesse contexto, agora a taxa de câmbio entre o yuan e o rublo também se tornará uma referência para os participantes do mercado e outras moedas.

Assim, o Banco Central afirma que as sanções apenas "alteram a estrutura do comércio no mercado de câmbio, mas não afetam o volume de entradas de divisas provenientes de exportações, ou sua demanda para pagar importações".

Consequências para o dólar

Portanto, é improvável que as sanções americanas contra a Bolsa de Valores de Moscou tenham um efeito devastador sobre a economia da Rússia, mas elas minam ainda mais a confiança na moeda nacional dos EUA, que é usada no mundo como a principal moeda, opina o presidente da Duma, Vyacheslav Volodin.

Já desde 2022, as ações agressivas dos EUA fizeram com que muitos países se perguntassem o que os impede de fazer o mesmo com eles em caso de desacordo com Washington. Como resultado, cada vez mais nações estão considerando abandonar o dólar e mudar para suas moedas nacionais.

Esta semana, na reunião dos ministros das relações exteriores do BRICS e do BRICS+, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, declarou que o grupo já está trabalhando para criar uma plataforma para pagamentos em moedas nacionais. Em particular, o bloco está se esforçando para "melhorar o sistema monetário e financeiro internacional, e desenvolver uma plataforma para transações em moedas nacionais no comércio mútuo", enfatizou o chanceler russo.

Afastamento do dólar mais ativo do que antes

Enquanto isso, o presidente do Comitê de Mercados Financeiros da Duma (a Câmara Baixa do parlamento russo), Anatoly Aksakov, afirma que as sanções dos EUA contra o MOEX são mais um sinal de que o dólar é "uma moeda pouco confiável devido à sua politização", portanto "haverá um afastamento mais ativo do dólar do que antes". Ele observou que isso também intensificará o uso de moedas digitais.

"É óbvio que isso vai acontecer. Os norte-americanos, com suas próprias mãos, estão realmente minando o poder de seu país, que se baseava no dólar como moeda para transações internacionais."

Por sua vez, Volodin também observou que vários países, especialmente os membros do BRICS, perceberam que os EUA usam o dólar como um instrumento de pressão política e começaram a abandonar os pagamentos nessa moeda. "As restrições aos pagamentos e o roubo de reservas cambiais devem fazer com que outros países reflitam sobre a confiabilidade de manter seus fundos na moeda americana. O dólar se tornou tóxico", disse ele.

Aumento do uso do yuan

Outra ameaça ao dólar é o yuan, a moeda nacional chinesa, que Moscou promove ativamente no comércio com vários países da Ásia, América Latina e África. De acordo com Volodin, em particular, 95% de todas as transações comerciais entre a Rússia e a China são realizadas em rublos e yuans, enquanto a participação de moedas "hostis" no mercado russo diminuiu quase cinco vezes em dois anos.

Ao mesmo tempo, o Banco Central da Rússia informou que a participação do yuan nas negociações da Bolsa de Valores de Moscou em maio foi de 54%. "Nos últimos dois anos, o papel do dólar norte-americano e do euro no mercado russo vem diminuindo constantemente, resultado da reorientação dos fluxos comerciais para o leste e da mudança da moeda usada nas transações para rublos, yuans e outras moedas de países amigos", afirmou.