A chamada 'cúpula de paz da Ucrânia', realizada nos dias 15 e 16 de junho na Suíça, parece não ter produzido os resultados desejados por Kiev, pois vários de seus participantes já expressaram dúvidas sobre a eficácia do evento sem a presença da Rússia.
Moscou não foi convidada para a cúpula devido às exigências do líder do regime ucraniano, Vladimir Zelensky, que disse que nenhum representante russo deveria estar presente na reunião, pois eles poderiam obter o apoio de outros países e sequestrar a agenda de Kiev.
Mais de 160 participantes foram convidados para a cúpula, mas quase metade recusou o convite, acreditando que não faz sentido discutir a possibilidade de encerrar o conflito se a Rússia não estiver presente nas negociações.
A lista final de participantes incluiu representantes de 92 países e oito organizações internacionais.
Comunicado sem as principais exigências
É importante lembrar que Zelensky queria promover sua chamada 'fórmula de paz', incluindo a exigência de que a Rússia retirasse todas as suas tropas e restaurasse a "integridade territorial" total da Ucrânia.
No comunicado final, os participantes se comprometeram a abster-se do uso da força contra "a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado". Os signatários enfatizaram a necessidade de garantir a segurança das instalações nucleares, a segurança alimentar global, a troca de todos os prisioneiros de guerra e se manifestaram contra o uso de armas nucleares e ataques a navios mercantes.
Mas o documento não inclui a principal exigência de Kiev, que é a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ao mesmo tempo, especifica que todos os lados devem participar do diálogo.
Nem todos os participantes concordaram em assinar o comunicado. O documento recebeu o apoio de apenas 80 países dos 92 presentes. Alguns países importantes do Sul Global que participaram da cúpula, como Arábia Saudita, Tailândia, Índia, México, África do Sul, Brasil e Emirados Árabes Unidos, bem como Armênia e Eslováquia, recusaram-se a assinar a declaração.
Além disso, alguns representantes decidiram deixar a cúpula antes de sua conclusão, como o chanceler alemão Olaf Scholz e a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris.
Por sua vez, o presidente colombiano Gustavo Petro anunciou que havia decidido suspender sua visita ao evento. Observando que a conferência é "basicamente um alinhamento ao lado da guerra" e que Bogotá "não concorda com isso", Petro declarou: "Decidi suspender minha visita e o convite para a conferência na Suíça porque a América Latina não quer mais guerra, o que ela quer é a construção da paz o mais rápido possível".
Sem a Rússia, não haverá resultados
Diversos países afirmaram que, sem a Rússia, nem a cúpula nem qualquer outra negociação sobre o conflito ucraniano produzirá qualquer resultado.
Nesse contexto, o Ministro das Relações Exteriores da Eslováquia, Juraj Blanar, disse que era improvável que a cúpula pudesse levar a uma solução essencial sem a intervenção dos principais atores na arena mundial, incluindo a Rússia. "Não espero que a conferência chegue a uma conclusão final porque a Federação Russa não comparecerá, mas outros atores globais, como a China, também não", disse Blanar em uma publicação nas redes sociais, enfatizando que o Governo eslovaco "considera essencial negociar e buscar soluções diplomáticas para resolver diplomaticamente o conflito na Ucrânia".
Suas palavras foram apoiadas por seu homólogo da Turquia, Hakan Fidan, que destacou durante seu discurso que essa reunião "poderia ter sido mais orientada para resultados se a outra parte do conflito, a Rússia, estivesse presente na sala".
O chanceler turco ainda lembrou que Moscou também apresentou recentemente sua proposta de solução para o conflito. "Temos o plano de paz ucraniano diante de nós, e a Rússia recentemente compartilhou alguns termos. Independentemente do conteúdo e das condições apresentadas, esses são passos importantes e um vislumbre de esperança para começar", declarou.
Da mesma forma, o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan al Saud, foi claro ao garantir aos participantes do evento que, embora seu país "apoie todos os esforços para acabar" com as hostilidades entre Moscou e Kiev, acredita que "é essencial enfatizar que qualquer processo confiável precisará do envolvimento da Rússia".
A presidente da Suíça, Viola Amherd, representando o país anfitrião, reconheceu que "um processo de paz sem a Rússia é inconcebível", revelando que, por causa disso, a conferência também abordará "como e sob quais condições a Rússia pode ser incluída nesse processo".
O presidente do Quênia, William Ruto, também lamentou a ausência da Rússia na cúpula, dizendo que ela "não deveria ser apenas uma reunião de amigos". "Deveria ser uma reunião de amigos e inimigos para ter sucesso nessa trajetória positiva", destacou.
Ruto também se posicionou contra a decisão dos países ocidentais de usar os ativos russos congelados em benefício da Ucrânia. "A apropriação unilateral dos ativos russos é ilegal, inaceitável e [representa] uma derrogação da Carta das Nações Unidas, especialmente para aqueles de nós que acreditam na liberdade, na justiça, na democracia e no Estado de Direito", afirmou.
Resposta da Rússia
Enquanto isso, o porta-voz oficial do Kremlin, Dmitry Peskov, comentou que Moscou não tem "nada a dizer" aos participantes da 'cúpula de paz da Ucrânia' em andamento. "Não temos nada a dizer a eles, queremos nos encontrar da próxima vez em um evento mais substancial e promissor", disse o porta-voz aos jornalistas, quando perguntado sobre a cúpula no sábado.
- O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou na sexta-feira as condições para a abertura de negociações de paz com a Ucrânia. Ele declarou que as Forças Armadas ucranianas devem se retirar completamente do território da República Popular de Donetsk, da República Popular de Lugansk, bem como das províncias russas de Kherson e Zaporozhie. "Assim que Kiev declarar que está pronta para tal decisão e iniciar a retirada efetiva das tropas dessas regiões, bem como notificar oficialmente o abandono dos planos de adesão à OTAN, de nossa parte, imediatamente, literalmente naquele exato minuto, virá a ordem para cessar-fogo e iniciar as negociações", disse Putin.
- Por sua vez, Zelensky descartou a proposta como um "ultimato", rejeitando-a de imediato.
- Moscou tem afirmado repetidamente que a Rússia está pronta para resolver o conflito por meio de negociações. No entanto, Zelensky proibiu-se a si mesmo de negociar com Moscou por lei.