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"Já passou da hora dos super-ricos pagarem sua justa contribuição" - discurso de Lula perante o G7

O mandatário discursou nesta sexta-feira perante os líderes do G7, grupo que reúne os países considerados mais ricos do mundo.
"Já passou da hora dos super-ricos pagarem sua justa contribuição" - discurso de Lula perante o G7Gettyimages.ru / Buda Mendes

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursou nesta sexta-feira como convidado perante os líderes da Cúpula do G7, o grupo de países que reúne a Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e o Reino Unido.

O mandatário abordou temas como a taxação de super-ricos, o combate à fome e à pobreza, bem como o uso justo e igualitário da Inteligência Artificial (IA) por parte dos países, tópico que havia abordado com ênfase durante sua participação de quinta-feira no Fórum Inaugural da Coalização Global para a Justiça Social, em Genebra.

Revolução digital e o uso da IA pelo Sul Global

Ainda durante o início das suas considerações, o presidente do Brasil fez um alerta para a necessidade de uma "revolução digital" simultânea ao enfrentamente das mudanças climáticas. A condução dessa transição que, segundo as palavras do mandátario, seriam "dilemas existencias" dos tempos atuais, deveriam ter como foco "a dignidade humana, a saúde do planeta e o senso de responsabilidade com as futuras gerações".

Lula criticou o fato de que a IA possa ser usada para "acentuar" um cenário de desigualdade e riscos na área digital, citando uma atual "concentração sem precedentes" nas mãos de um pequeno número de indivíduos e empresas de um número limitado de países.

"Seus benefícios devem ser compartilhados por todos", enfatizou o chefe de Estado brasileiro, reforçando o interesse da humanidade por uma IA que assegure a "proteção dos dados pessoais" e que "promova a integridade de formação".

O mandatário reforçou sua defesa pelo desenvolvimento de um projeto de Inteligência Artificial que represente o Sul Global, ao mesmo tempo que "fortaleça a diversidade cultural e linguística, e que desenvolva a  economia digital dos nossos países". A IA deveria ser "uma ferramenta para a paz, não para a guerra".

"Necessitamos de uma governança internacional e intergovernamental da inteligência artificial, em que todos os Estados tenham assento", enfatizou.

O papel da África para o futuro

Referindo-se ao continente africano, Luiz Inácio Lula da Silva destacou as suas "enormes possibilidades" para o futuro, levando em consideração a sua extensão e riqueza territorial, e o número de habitantes. Lula criticou o fato de que jovens africanos muitas vezes morrem ao procurar melhores condições de vida.

"A força criativa de sua juventude não pode ser desperdiçada cruzando o Saara para se afogar no Mediterrâneo. Buscar melhores condições de vida não pode ser uma sentença de morte", alertou.

O mandatário destacou a crescente participação de representantes do continente africano em reuniões para discussão temas de desenvolvimento global, como o grupo do G20, a qual, pela primeira vez, a União Africana integra como membro pleno.

Ele, porém, criticou o fato de que muitos países africanos "estejam próximo da insolvência" ao destinar mais recursos para pagamento de sua dívida externa do que destiná-los ao desenvolvimento da educação ou da saúde. "Isso constitui fonte permanente de instabilidade social e política.

Sendo assim, Lula fez uma defesa da valorização dos recursos naturais por parte dos países em desenvolvimento para que não sigam "presos na relação de dependência que marcou sua história", defendendo um papel maior do Estado como moderador e planejador deste caminho de desenvolvimento.

Taxação dos super-ricos

O presidente brasileiro associou a taxação de grandes fortunas como um dos principais temas de relevância no que diz respeito ao enfrentamento da desigualdade, fazendo um paralelo com suas considerações realizadas em Genebra durante a quinta-feira.

"Promover o emprego decente e a inclusão social são alguns dos temas que tratei ontem na Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra. A Parceria para o Direito dos Trabalhadores que levamos adiante com o Presidente Biden tem essa finalidade", declarou.

Lula afirmou que "já passou da hora dos super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos", alertando que a concentração excessiva de renda pode representar "um risco à democracia".

Utilizando como referência o papel dos países em desenvolvimento na formulação de políticas sociais mirando a erradicação da fome e da pobreza, o mandatário brasileiro destacou a importância dos países presentes na reunião em apoiar a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que será lançada durante a Cúpula do G20, no Rio de Janeiro.

Situação na Faixa de Gaza

Ao final de seu discurso, o presidente do Brasil criticou os gastos com armamentos realizados no último ano. Lula destacou um aumento do gasto de 2023 em relação a 2022 para um valor de 2,4 trilhões de dólares.

O mandatário criticou ainda a atuação de Israel em relação à Faixa de Gaza. "Em Gaza, vemos o legítimo direito de defesa se transformar em direito de vingança", afirmou o presidente que, anteriormente, já havia comparado as mortes dos palestinos em Gaza com o assassinato em massa de judeus durante a Segunda Guerra, o que resultou na sua designação como "persona non grata" por parte do ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz.

Lula denunciou perante os líderes do G7 a "violação cotidiana do direito humanitário", com milhares de civis inocentes vitimados, sobretudo mulheres e crianças, o que teria, segundo o mandatário, endossado a decisão da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça.

Conflito entre a Ucrânia e a Rússia

Em relação à situação atual entre a Ucrânia e a Rússia, Lula opinou que "nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar".

Com isso, ele reforçou a necessidade de uma conferência internacional reconhecida por ambas as partes envolvidas no conflito, mencionando os moldes propostos pelo Brasil e pela China para a viabilização da paz.

O presidente do Brasil finalizou o seu discurso fazendo um apelo pela superação das desigualdades atuais e injustiças históricas para a resolução dos problemas da sociedade moderna, relembrando que as maiores economias do planeta reúnem não apenas as nações do G7, mas também o BRICS e o G20.