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Resíduos farmacêuticos estão deixando animais "viciados"

Um especialista alerta que os ingredientes farmacêuticos foram encontrados até em frutos de mar que poderíamos comer.
Resíduos farmacêuticos estão deixando animais "viciados"Gettyimages.ru / Reinhard Dirscherl

Os resíduos farmacêuticos e os medicamentos liberados na natureza têm um sério impacto sobre a vida selvagem.

Algumas espécies de aves que têm ingerido doses de antidepressivos como o Prozac encontrados em águas residuais, por exemplo, tornam-se menos atraentes para os possíveis parceiros, enquanto os machos se comportam de forma mais agressiva e cantam menos para atraí-las.

As descobertas foram relatadas por uma recente publicação da revista Nature Sustainability, citada pelo jornal britânico The Guardian. O veículo também fala de trutas marrons que, tornadas dependentes de metanfetamina despejada no rio, perdem o medo de predadores, desbalanceando o ciclo predatório.

Já a contaminação por anticoncepcionais causa a inversão do sexo em algumas populações de peixes, com os machos se transformando em fêmeas e, consequentemente, reduzindo as quantidades.

Foi descoberto ainda que drogas como cafeína, ansiolíticos, antidepressivos e antipsicóticos estão entrando nos ecossistemas, assim como drogas ilegais como a cocaína.

"Ingredientes farmacêuticos ativos são encontrados em cursos d'água em todo o mundo, até mesmo em organismos que poderíamos comer", disse Michael Bertram, professor assistente da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, que participou de um estudo sobre a contaminação de ecossistemas por medicamentos.

Há duas maneiras pelas quais os produtos químicos entram no meio ambiente. "Uma delas é o tratamento inadequado dos medicamentos que são liberados durante sua produção. Outra é durante o consumo. Quando um ser humano toma uma pílula, nem toda a droga é decomposta dentro do corpo. Portanto, através dos excrementos, o efluente é liberado diretamente no meio ambiente", explicou Bertram.

Essa não é a primeira vez que esses casos são relatados. Entre 1992 e 2007, a população de abutres no sul da Ásia foi reduzida em 97% por causa do diclofenaco administrado ao gado.

Por outro lado, os casos de raiva canina cresceram nos últimos anos porque os cães começaram a comer gado que não era mais consumido por aves necrófagas.

Nesse contexto, os cientistas acreditam que os resíduos que impactaram os animais selvagens também podem ter consequências inesperadas para os seres humanos. Para evitar isso, na opinião deles, é necessário alterar o processo de produção de produtos farmacêuticos para torná-los mais "verdes".

"Medicamentos mais ecológicos reduzem o potencial de contaminação ao longo de todo o ciclo", disse Gorka Orive, professor de Farmácia da Universidade do País Basco e coautor da pesquisa.

"Os medicamentos devem ser projetados não apenas para serem eficazes e seguros, mas também para terem um risco potencial reduzido para a vida selvagem e a saúde humana quando estiverem no meio ambiente", alertou.