O jornal mais antigo de Israel publica uma nota fortemente censurada por ordem do Governo
O jornal mais antigo de Israel, Haaretz, publicou nesta semana dois artigos que questionam a natureza democrática do sistema do país.
O primeiro, escrito por Jonathan Pollak, um veterano ativista antissionista israelense, foi publicado na quarta-feira com o título: "A causa da detenção de Israel: ..." e o restante da frase censurado com faixas pretas.
O artigo se concentra no chamado sistema de "detenção administrativa", segundo o qual as Forças israelenses mantêm palestinos presos indefinidamente sem acusação ou devido processo.
O motivo da censura do texto com faixas pretas é que, de acordo com uma ordem de não divulgação, a mídia não tem permissão para discutir a medida. Sempre que o autor se referia a declarações da polícia ou a quaisquer detalhes relacionados a um julgamento ou acusações indeterminados, essas partes eram ocultadas em faixas pretas.
O conhecido jornalista e ganhador do Prêmio Pulitzer, Glenn Greenwald, criticou a situação em que se encontra um dos principais jornais do país e comparou-a à Ucrânia.
"É muito indicativo de um país democrático robusto quando um de seus principais jornais é forçado a escrever suas próprias reportagens com barras pretas, porque a história descreve os abusos e a ilegalidade da detenção brutal de árabes por Israel na Cisjordânia, e isso não é permitido", manifestou.
"É como ouvir constantemente que estamos protegendo a democracia na Ucrânia quando - mesmo antes da invasão russa - Zelensky fechou estações de TV e jornais da oposição e, desde então, intensificou a censura e suspendeu as eleições", apontou Greenwald.
Israel's cause for detention: ████ ██ █████ | Opinion | Jonathan Pollack https://t.co/3AnYhZ4KTG
— Haaretz.com (@haaretzcom) May 29, 2024
Sofrendo as consequências e conhecendo as salas de interrogatório
O segundo artigo foi publicado na quinta-feira. Escrito por Gur Megiddo, ele aborda a exclusiva publicada esta semana pela +972 Magazine, Local Call e The Guardian, que revelou como Israel tentou durante anos obstruir as investigações do Tribunal Penal Internacional de Haia sobre suas ações nos territórios palestinos.
O autor do artigo revela que o Haaretz estava se preparando há dois anos para informar sobre as pressões de Tel Aviv sobre o tribunal da ONU, mas não o fez após pressão de lideranças do país.
De acordo com Megiddo, na véspera da data prevista para a publicação, o promotor entrou em contato com ele e o convidou para uma entrevista. Durante a conversa, ele foi avisado de que, se publicasse a história, sofreria as consequências e conheceria por dentro as salas de interrogatório dos serviços de segurança israelenses.
"Dois anos depois, a tentativa do Governo de silenciá-lo acabou se revelando uma dupla loucura. Em vez de sair em um jornal israelense, a investigação apareceu agora em um jornal global. Em vez de enfrentar a história em tempos de paz, agora tem que enfrentá-la no meio de uma guerra", lamentou o jornalista.