
Venezuela alerta que 'energia não pode se tornar uma arma de guerra nem um instrumento de coerção'

O governo da Venezuela declarou nesta segunda-feira (22) que "a energia não pode se tornar uma arma de guerra" no contexto do "bloqueio total" das costas venezuelanas, ordenado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e do assalto a dois navios petroleiros nas costas venezuelanas.
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, leu uma carta enviada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a todos os países que integram a Organização das Nações Unidas (ONU), na véspera de uma sessão do Conselho de Segurança desse órgão para tratar do tema da agressão contra o país sul-americano por parte de Washington.
No texto, o presidente venezuelano alerta sobre "uma escalada de ações extremamente graves por parte do governo dos EUA, cujos efeitos transcendem" o país sul-americano e "ameaçam desestabilizar toda a região e o sistema internacional como um todo".

Da mesma forma, ele convocou líderes de outros países a "condenarem explicitamente as ações de pirataria e execuções extrajudiciais" realizadas pelos EUA na região e a exigirem "o fim imediato do envio de tropas, do bloqueio e dos ataques armados".
"Defender a Venezuela hoje é defender a paz, a legalidade e a estabilidade do mundo", afirmou.
"Graves atos de pirataria"
Em sua carta, Maduro denunciou o "sequestro" e o "roubo" por parte dos EUA de dois navios petroleiros que continham cerca de quatro milhões de barris e rejeitou a ordem de Trump de um "bloqueio naval absoluto" contra os petroleiros que transportam a energia venezuelana.

O presidente venezuelano classificou como "graves atos de pirataria" as ações executadas pelas forças armadas dos EUA e acrescentou que "constituem adicionalmente atos de agressão", de acordo com as Nações Unidas e diversos tratados internacionais.
"A execução da pirataria estatal é uma ameaça direta à ordem jurídica internacional e à segurança global", acrescentou.
O presidente venezuelano também alertou no texto lido por Gil que a "inação diante da agressão e o desrespeito ao direito internacional têm consequências devastadoras".

"A Venezuela defenderá sua soberania"
"A Venezuela reafirma sua vocação pela paz, mas também declara que está preparada para defender sua soberania, sua integridade territorial e seus recursos, de acordo com o direito internacional".
Maduro advertiu que "o bloqueio e a pirataria contra o comércio energético venezuelano" não afetarão apenas esse país, mas terão consequências negativas sobre "o fornecimento de petróleo e energia; aumentarão a instabilidade dos mercados internacionais; afetarão as economias da América Latina e do mundo, especialmente nos países mais vulneráveis".
"A energia não pode se tornar uma arma de guerra nem um instrumento de coerção política", afirmou.
"Uma ameaça direta"
Maduro advertiu que a chamada "Operação Lança do Sul", que segundo o Pentágono visa "eliminar os narcoterroristas" do hemisfério ocidental, "constitui uma ameaça direta ao uso da força proibida pela Carta das Nações Unidas".
Sobre os bombardeios a pequenas embarcações no Caribe e no Pacífico, nos quais morreram pelo menos 75 pessoas, o presidente venezuelano classificou as mortes como "execuções extrajudiciais" e afirmou que elas "violam o direito à vida" e vários acordos internacionais.
"Não se trata de incidentes isolados, mas de uma prática sistemática de uso letal da força fora de qualquer marco legal internacional", alertou.
Agressões dos EUA
- Escalada militar: Os Estados Unidos, em agosto, enviaram navios de guerra, um submarino, caças e tropas para a costa da Venezuela, alegando sua suposta disposição em combater o narcotráfico. Desde então, foram realizados vários bombardeios a supostas lanchas com drogas no mar do Caribe e no Oceano Pacífico, deixando dezenas de mortos.
- Falsos pretextos: Washington acusou Maduro, sem provas ou fundamentação, de liderar um suposto cartel de drogas. As mesmas acusações infundadas foram feitas contra o presidente colombiano Gustavo Petro, que condenou os ataques mortais contra embarcações nas águas da região.
- Infiltrações de inteligência: O presidente americano Donald Trump admitiu ter autorizado a CIA a realizar operações secretas em território venezuelano, em meados de outubro. Maduro perguntou, em resposta: "Alguém acredita que a CIA não opera na Venezuela há 60 anos? (...) [Que] não conspira contra o comandante [Hugo] Chávez e contra mim há 26 anos?", perguntou ele.
- Postura venezuelana: Maduro afirma que o verdadeiro objetivo dos EUA é uma "mudança de regime" para se apoderar da imensa riqueza de petróleo e gás da Venezuela.
- Condenação internacional: O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, condenou os bombardeios realizados pelos EUA contra pequenas embarcações, supostamente para combater o narcotráfico, que resultaram em pelo menos 75 mortos. Os bombardeios também foram criticados pelos governos de países como Rússia, Colômbia, México e Brasil. Peritos da ONU afirmaram que as ações americanas se tratam de "execuções sumárias", em violação ao que consagra o direito internacional.
