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Venezuela acusa EUA de 'pirataria' após apreensão de segundo petroleiro

Caracas denuncia roubo, sequestro de tripulação e promete levar o caso à ONU.
Venezuela acusa EUA de 'pirataria' após apreensão de segundo petroleiroX / @DHSgov / Redes sociais

A Venezuela denunciou neste sábado (20) o "roubo e sequestro" de um segundo navio petroleiro em frente às suas costas por parte dos EUA.

"A República Bolivariana da Venezuela denuncia e rejeita categoricamente o roubo e sequestro de um novo navio privado que transportava petróleo venezuelano, assim como o desaparecimento forçado de sua tripulação, cometidos por efetivos militares dos Estados Unidos da América em águas internacionais", lê-se em um comunicado compartilhado pela vice-presidente Delcy Rodríguez em suas redes sociais.

O texto descreve a ação como um "grave ato de pirataria" que viola a Carta das Nações Unidas (ONU), a Convenção de Genebra sobre o Alto-Mar e os princípios do direito internacional "referentes às relações de amizade e à cooperação entre os Estados".

"O modelo colonialista que o Governo dos Estados Unidos pretende impor com esse tipo de prática fracassará e será derrotado pelo povo venezuelano", destaca o documento, no qual se ressalta que Caracas "seguirá adiante com seu crescimento econômico, sustentado em seus 14 motores e no desenvolvimento de sua indústria de hidrocarbonetos, de maneira independente e soberana".

Nesse sentido, o governo venezuelano reiterou que "exercerá todas as ações correspondentes, incluindo a denúncia perante o Conselho de Segurança das ONU, outros organismos multilaterais e os governos do mundo".

"O Direito Internacional prevalecerá e os responsáveis por esses graves fatos responderão perante a justiça e a história por seu proceder criminoso", advertiu Caracas.

O que dizem nos EUA?

A secretária de Segurança Nacional dos EUA, Kristi Noem, confirmou neste sábado que a Guarda Costeira, com o apoio do Departamento de Guerra, deteve um petroleiro que "havia atracado pela última vez na Venezuela", no que descreveu como um "movimento ilícito de petróleo sancionado que é utilizado para financiar o narcoterrorismo na região". Essas afirmações foram amplamente repudiadas por Caracas.

Da mesma forma, o secretário de Guerra, Pete Hegseth, advertiu que o Departamento de Guerra e a Guarda Costeira "realizarão sem hesitação operações de interceptação marítima", no âmbito da 'Operação Lança do Sul', para desmantelar as supostas redes criminosas ilícitas.

''Piratas do Caribe''

O primeiro navio petroleiro foi abordado por militares norte-americanos na semana passada. Na ocasião, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, classificou o episódio como um "ato absolutamente criminoso e ilegal" e acusou a Casa Branca de agir "como piratas do Caribe contra uma embarcação mercante, comercial, civil, privada, de paz".

Na terça-feira (16), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou o "bloqueio total e completo" da entrada e saída de navios petroleiros sancionados da Venezuela. Além disso, anunciou que o governo venezuelano foi "designado como uma organização terrorista" por Washington.

Trump acusou Caracas, sem apresentar provas, de utilizar "o petróleo de campos roubados para se financiar e financiar o terrorismo ligado às drogas, ao tráfico de pessoas, a assassinatos e a sequestros".

Por sua vez, Maduro reiterou que, apesar da prolongada agressão dos EUA, o país derrotará "a oligarquia e o imperialismo em qualquer circunstância". "A Venezuela tem 25 semanas denunciando, enfrentando e derrotando uma campanha de agressão multidimensional que vai do terrorismo psicológico à pirataria dos corsários que assaltaram o petróleo, com múltiplas formas de ação. O que a Venezuela demonstrou? Que é um país forte, que tem um poder verdadeiro", afirmou.

O presidente venezuelano também classificou como "mentira"e "fake news" o argumento norte-americano de combate ao narcotráfico, dizendo que ele é usado como pretexto para justificar agressões. "Isso do narcotráfico é fake news, mentira, pretexto. Como não podem dizer que temos armas de destruição em massa, armas químicas ou mísseis nucleares, inventam um pretexto para criar outro Afeganistão, outra Líbia", explicou.

Agressões dos EUA

  • Escalada militar: Os Estados Unidos, em agosto, enviaram navios de guerra, um submarino, caças e tropas para a costa da Venezuela, alegando sua suposta disposição em combater o narcotráfico. Desde então, foram realizados vários bombardeios a supostas lanchas com drogas no mar do Caribe e no Oceano Pacífico, deixando dezenas de mortos.
  • Falsos pretextos: Washington acusou Maduro, sem provas ou fundamentação, de liderar um suposto cartel de drogas. As mesmas acusações infundadas foram feitas contra o presidente colombiano Gustavo Petro, que condenou os ataques mortais contra embarcações nas águas da região.
  • Infiltrações de inteligência: O presidente americano Donald Trump admitiu ter autorizado a CIA a realizar operações secretas em território venezuelano, em meados de outubro. Maduro perguntou, em resposta: "Alguém acredita que a CIA não opera na Venezuela há 60 anos? (...) [Que] não conspira contra o comandante [Hugo] Chávez e contra mim há 26 anos?", perguntou ele.
  • Postura venezuelana: Maduro afirma que o verdadeiro objetivo dos EUA é uma "mudança de regime" para se apoderar da imensa riqueza de petróleo e gás da Venezuela.
  • Condenação internacional: O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, condenou os bombardeios realizados pelos EUA contra pequenas embarcações, supostamente para combater o narcotráfico, que resultaram em mais de 60 mortos. Os bombardeios também foram criticados pelos governos de países como RússiaColômbia, México e Brasil. Peritos da ONU afirmaram que as ações americanas se tratam de "execuções sumárias", em violação ao que consagra o direito internacional.