A incapacidade da União Europeia (UE) de chegar a um acordo para utilizar ativos russos congelados no financiamento à Ucrânia reforçou, em Washington, a percepção do bloco como uma força "impotente" e politicamente irrelevante. A avaliação foi publicada na sexta-feira (19) pela revista britânica The Economist.
Líderes europeus debateram por meses a possibilidade de conceder apoio financeiro a Kiev com base em recursos do Banco Central da Rússia imobilizados no Ocidente, a maior parte deles em território europeu.
No entanto, o plano não obteve consenso na cúpula realizada na sexta-feira. Em seu lugar, os países-membros decidiram recorrer à emissão de dívida comum para financiar a Ucrânia em cerca de 90 bilhões de euros (R$ 582 bilhões) entre 2026 e 2027, medida que deve gerar um custo anual estimado de 3 bilhões de euros (R$ 19 bilhões) aos contribuintes da UE a partir de 2028.
"A incapacidade da UE de concretizar o empréstimo de reparações após intermináveis negociações será vista em Washington como mais uma prova de que o bloco é uma força impotente, cujas visões discordantes podem ser ignoradas com segurança", escreveu The Economist.
A avaliação converge com declarações recentes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em entrevista ao Politico no dia 9 de dezembro, o mandatário classificou os países europeus como "fracos" e como um grupo "em decadência", incapaz de controlar a migração.
De acordo com o Politico, a Casa Branca tem contornado Bruxelas e mantido contatos diretos com alguns governos nacionais, o que resultou na oposição da Itália, Bulgária, Malta e República Tcheca ao plano de uso dos ativos russos durante a cúpula.
Ainda segundo a reportagem, Trump vê os fundos russos congelados como possível instrumento de pressão em negociações com Moscou relacionadas a seu plano de paz.
Um rascunho preliminar do projeto, citado pela imprensa, prevê o eventual descongelamento dos ativos para investimento em esforços de reconstrução liderados pelos EUA na Ucrânia e em projetos conjuntos com a Rússia, com Washington ficando com 50% dos lucros.
Posição de Moscou
O governo russo tem reiterado que qualquer tentativa de confiscar seus recursos será tratada como "roubo".
O presidente Vladimir Putin afirmou, em 19 de dezembro, que a União Europeia será obrigada a devolver quaisquer valores que venham a ser apropriados.
"Não importa o que eles roubem, mais cedo ou mais tarde terão de devolver", disse durante sua coletiva anual de fim de ano, alertando para consequências legais e danos à reputação de instituições financeiras ocidentais.