A possível apreensão dos ativos russos congelados em bancos europeus não pode ser qualificada como furto, é "um assalto", declarou o presidente Vladimir Putin, em sua tradicional maratona anual de perguntas e respostas, na sexta-feira (19).
"Furto não é o termo correto. Furto é uma apropriação às escondidas de propriedade, mas aqui eles querem fazê-lo abertamente. É um assalto", denunciou o presidente.
"Mas por que esse assalto não pode ser feito? Porque as consequências podem ser graves para os assaltantes", acrescentou.
"Em primeiro lugar, não é fácil. Não só anunciaram que iriam assaltar e levar tudo, como uma das ideias era emitir um empréstimo garantido com os nossos ativos. Mas o que significa emitir um empréstimo? Tem consequências para o orçamento de todos os países", explicou o presidente.
"Se alguém concede algum empréstimo, mesmo com a garantia de nossas reservas de ouro e divisas, isso deve se refletir no orçamento do país que o concede", detalhou ele.
"Mas há outras consequências mais graves para aqueles que tentam fazer isso. Não se trata apenas de um golpe à sua imagem, é um dano à confiança", continuou.
Putin destacou que muitos países têm seus ativos na zona do euro, como, é claro, os países produtores de petróleo, e que , ao verem o que está acontecendo, "já começam a ter suspeitas, dúvidas e receios".
"E o mais importante, seja o que for que assaltem e como o façam, algum dia terão que devolvê-lo. Além de tudo o que foi mencionado, defenderemos nossos interesses. Onde? Principalmente, nos tribunais. Especificamente, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para encontrar uma jurisdição que seja independente das decisões políticas", concluiu o chefe de Estado russo.
A imprensa internacional tem relatado sobre a falta de consenso entre os membros da UE durante a sua última cimeira em Bruxelas para discutir o confisco dos fundos soberanos russos. Em vez disso, os líderes europeus concordaram em aprovar um plano que prevê a concessão à Ucrânia de umempréstimo de 90 bilhões de euros para os próximos dois anos do orçamento conjunto do bloco.
- Desde fevereiro de 2022, vários países ocidentais, como os EUA, os da UE e o Reino Unido, entre outros, mantêm congelados mais de 300 bilhões de dólares em ativos estatais russos. Cerca de 242,8 bilhões de dólares desses fundos estão em blocos da União Europeia, depositados principalmente no Euroclear.
- Moscou advertiu em várias ocasiões que o congelamento de seus fundos viola o direito internacional e classificou a iniciativa da União Europeia como "roubo".
- O Banco Central da Rússia anunciou na semana passada o início de procedimentos legais contra o depositário internacional Euroclear por "ações ilegais" que lhe geram perdas e contra os planos da Comissão Europeia de utilizar direta ou indiretamente os ativos russos congelados sem o seu consentimento. O órgão ainda informou que exigirá uma indenização pelos danos sofridos em causa do bloqueio e da utilização dos seus ativos por parte dos bancos europeus.