
Mortes de brasileiros na Ucrânia são ocultadas pelo Exército, diz ex-combatente

Um ex-combatente brasileiro que atuou por meses no conflito ucraniano no lado do regime de Kiev afirmou, em entrevista publicada na quarta-feira (17) pelo jornal A Tarde, que mortes de estrangeiros, incluindo brasileiros, são deliberadamente ocultadas por unidades militares ucranianas. O relato foi feito por "Rafael", de nome fictício, de 38 anos, após retornar ao Brasil.
O combatente afirmou ainda que corpos permanecem no campo de batalha, sendo devorados por porcos e cachorros.

Corrupção no Exército
Segundo ele, soldados mortos sem recuperação dos corpos são registrados como "desaparecidos em ação" ou "perdidos no terreno", status que pode se estender por até três anos, período de vigência dos contratos.
"Sem corpo, não tem morto. E o comandante continua recebendo o salário", afirmou.
O ex-combatente denunciou também a retenção de salários e desvio de recursos.
"Trabalhei meses e só recebi três. O resto ficou com o batalhão", afirmou, dizendo que soldados mortos sem corpo seguem registrados como ativos, gerando repasses financeiros às unidades.
De acordo com o ex-combatente, familiares não são comunicados, não recebem documentos, indenizações nem têm acesso aos restos mortais.
Rafael relatou que a não recuperação dos corpos é intencional.
"Não é porque não dá. É porque não querem. Muitos corpos acabam como alimento para animais", disse.
Mortes
As mortes, segundo o ex-soldado, ocorrem majoritariamente por minas terrestres, drones explosivos e soterramentos, e não em confrontos diretos.
"O drone explode tudo, não sobra nada. Quando pisa numa mina, só fica do meio pra cima", relatou. Rafael afirmou ainda que o envio de corpos ao exterior deixou de ocorrer.
"Antigamente, incineravam e mandavam as cinzas. Agora, nem isso", disse.
Na entrevista, o ex-combatente informou que muitas famílias só descobrem as mortes por mensagens informais, grupos de WhatsApp, redes sociais ou vídeos no Telegram.
"Aparece uma foto com um X e a frase 'Brazilian merc down'" ('mercenário brasileiro abatido', em tradução livre), disse, referindo-se a imagens divulgadas nas redes sociais.
Mercenários mortos por nacionalidade
Rafael também relatou a existência de um levantamento de baixas por nacionalidade, no qual brasileiros aparecem entre os mais mortos, atrás apenas de colombianos. Ele afirmou que, nas piores semanas, dezenas de estrangeiros morrem no front.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro não comentou o relato feito ao jornal.

