Assange denuncia a Fundação Nobel por 'facilitar crimes de guerra'

O fundador do WikiLeaks apresentou uma ação penal contra 30 pessoas relacionadas com o organismo sueco.

O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, apresentou nesta quarta-feira (17) uma denúncia criminal contra 30 pessoas ligadas à Fundação Nobel por "cometerem crimes graves". Entre eles, apropriação indevida de fundos, crimes contra a humanidade e o "financiamento do crime de agressão".

Segundo informações divulgadas pelo WikiLeaks, Assange ressaltou em sua denúncia que o testamento de Alfred Nobel (1895) determina que o Prêmio da Paz seja concedido à pessoa que, no ano anterior, tenha "proporcionado o maior benefício à humanidade", ao realizar "o maior ou melhor trabalho em favor da fraternidade entre as nações, da abolição ou redução dos exércitos permanentes e da realização e promoção de congressos de paz".

Dessa forma, Assange argumenta que "qualquer desembolso que contradiga esse mandato constitui apropriação indevida da dotação", uma vez que "a decisão política do comitê de seleção norueguês não suspende o dever fiduciário dos administradores dos fundos suecos".

Sombras sobre o prêmio concedido a María Corina Machado

A acusação de cometer o suposto crime de "apropriação indevida grave e conspiração" está relacionada com o pagamento pendente de 11 milhões de coroas suecas (aproximadamente 6,3 milhões de reais) do prêmio da Paz à opositora extremista venezuelana María Corina Machado, vencedora deste ano. Segundo Assange, as "ações anteriores e atuais" de Machado a excluem "categoricamente dos critérios estabelecidos no testamento de Alfred Nobel".

Quanto à denúncia por "facilitação de crimes de guerra", o comunicado explica que "os acusados estão cientes da incitação e do apoio de Machado à prática de crimes internacionais por parte dos EUA", pelo que "sabiam ou deveriam saber que o desembolso do dinheiro do Nobel contribuiria para execuções extrajudiciais de civis e sobreviventes de naufrágios no mar".

"A dotação de Alfred Nobel para a paz não pode ser usada para promover a guerra", afirmou Assange, acrescentando que a Fundação tem a obrigação de "garantir o cumprimento do propósito previsto no testamento" de seu fundador, "ou seja, pôr fim às guerras e aos crimes de guerra, e não facilitá-los".

Na opinião do fundador do WikiLeaks, "Machado continuou incitando o governo Trump a seguir seu caminho de escalada", no contexto do envio de tropas militares que Washington mantém no Caribe e no Pacífico desde agosto passado.

"A denúncia aponta que o anúncio e a cerimônia do Nobel ocorreram no que analistas militares descrevem como 'o maior deslocamento militar dos EUA no Caribe desde a Crise dos Mísseis em Cuba' — atualmente superior a 15.000 efetivos, incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford", lê-se no informe.

Alerta sobre desvio de fundos

Na acusação, Assange afirma que "existe um risco real de que os fundos provenientes da dotação do Nobel tenham sido ou sejam desviados intencionalmente ou por negligência de seu propósito beneficente para 'facilitar a agressão, crimes contra a humanidade e crimes de guerra'".

Diante dessa possibilidade, Assange solicita que as autoridades suecas congelem "imediatamente" a transferência pendente do prêmio monetário e garantam "a devolução da medalha". Da mesma forma, ele pede que as 30 pessoas indicadas em sua denúncia sejam investigadas.

Por fim, ele também solicita que seja realizada uma investigação nacional ou que o caso seja encaminhado ao Tribunal Penal Internacional (TPI).