'Brincando com fogo': vice-premiê da Itália critica congelamento de ativos russos pela UE

Matteo Salvini classificou a estratégia europeia como imprudente e apontou para impactos econômicos e jurídicos.

O vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, criticou no sábado (13) a decisão da União Europeia (UE) de bloquear indefinidamente ativos soberanos russos congelados no bloco, afirmando que a medida representa "temeridade" e "imprudência", segundo a mídia local.

Segundo Salvini, a iniciativa pode provocar represálias de Moscou contra interesses europeus e gerar consequências econômicas diretas para países do bloco.

"Pessoalmente, considero isso uma temeridade, uma imprudência", disse Salvini, ao comentar a estratégia europeia.

O vice-premiê acrescentou que a Itália "fez bem em deixar as coisas claras", ressaltando que "estamos em um mercado livre e não estamos em guerra com a Rússia".

"Ou alguém em Bruxelas, Paris ou Berlim declarou guerra à Rússia, ou parece que em Bruxelas alguém está brincando com fogo", afirmou.

Salvini alertou ainda para possíveis reações russas em caso de confisco de ativos.

"Confiscar bens, dinheiro e ativos tem como contraindicação que os russos farão o mesmo", declarou, lembrando que há "314 empresas italianas na Rússia que geram receitas e empregos".

Salvini afirmou também ser contrário à prorrogação da ajuda financeira à Ucrânia, ao comentar a existência de corrupção generalizada no país. Em conversa com jornalistas, o político também acusou alguns países europeus de boicotarem o processo de paz ao ignorarem avanços em negociações impulsionadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O vice-primeiro-ministro questionou a eficácia da estratégia adotada pela UE, afirmando que, se sanções e envio de armas não interromperam o conflito ucraniano ao longo dos últimos anos, seria necessário rever o caminho adotado.

Roubo de ativos russos

Desde fevereiro de 2022, países ocidentais, incluindo Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido, mantêm congelados mais de US$ 300 bilhões em ativos estatais russos. Desse total, cerca de US$ 242,8 bilhões estão no bloco europeu, em grande parte sob custódia da instituição financeira belga Euroclear.

Em setembro, a Comissão Europeia propôs conceder à Ucrânia um "empréstimo de reparação" de 140 bilhões de euros, financiado com recursos desses ativos congelados.

A iniciativa enfrentou resistência dentro do próprio bloco. A Bélgica rejeitou a proposta em diversas ocasiões, citando o risco de ações judiciais por parte de Moscou, posição compartilhada por outros países. Apesar disso, a União Europeia decidiu, em 12 de dezembro, manter o bloqueio dos ativos russos por tempo indeterminado.

Em resposta, o Banco Central da Rússia anunciou a abertura de processos legais contra a Euroclear, por "ações ilegais" que teriam causado prejuízos, e contra os planos da Comissão Europeia de utilizar os ativos congelados "direta ou indiretamente" sem consentimento.

Autoridades russas afirmam que a medida viola o direito internacional e classificam a iniciativa como "roubo".

Em 27 de novembro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que o país "está desenvolvendo um pacote de medidas de represália" e advertiu que o confisco teria "consequências negativas para o sistema financeiro mundial", afirmando que a confiança na zona do euro "desmoronará".

Saiba mais sobre o escândalo da corrupção que atinge o regime de Zelensky em nosso artigo.