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Climatempo muda monitoramento após vendaval histórico atingir São Paulo

Sistema usado nos EUA será referência para classificar rajadas secas e úmidas no Brasil.
Climatempo muda monitoramento após vendaval histórico atingir São PauloGettyimages.ru / Faga Almeida/UCG

O vendaval que atingiu a capital paulista na quarta-feira (10), com rajadas de até 96,3 km/h, levou a Climatempo a adotar uma nova metodologia de monitoramento dos ventos. Em entrevista ao portal g1 neste domingo (14), o meteorologista Cesar Soares informou que a empresa passará a classificar separadamente ventos fortes com e sem presença de chuva, seguindo prática já utilizada por órgãos meteorológicos dos Estados Unidos.

Segundo o especialista, a intensidade e a duração das rajadas de vento registradas em São Paulo sob céu limpo abriram um "precedente técnico". "A gente vai começar a guardar essas rajadas de vento em condições mais úmidas e em condições mais secas, para ter uma base nas duas situações", afirmou Soares. "O normal era São Paulo registrar ventos muito fortes só com atmosfera carregada. Agora a gente viu que isso mudou". 

A maior velocidade foi registrada no Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul, com 96,3 km/h, sendo o maior valor já documentado na cidade sem chuva desde o início das medições pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em 1963. Em situações anteriores, ventos com essa intensidade estiveram sempre associados a tempestades.

A mudança na classificação se inspira no modelo aplicado nos Estados Unidos, onde fenômenos como o "microburst" — vento intenso associado a tempestades — e os "Santa Ana Winds" — rajadas secas vindas do deserto — são tratados de forma distinta, inclusive na emissão de alertas.

"No Brasil sempre olhamos ventos fortes com base em tempestades. Só que agora isso [em São Paulo] abriu precedente", explicou o meteorologista.

Cesar Soares atribui o fenômeno a um ciclone extratropical que se formou sobre o continente, entre o Sul e o Sudeste, com mais de 10 mil quilômetros de extensão. A circulação de ventos foi suficiente para provocar rajadas intensas sem gerar chuva. "Ele forçou uma entrada de ar seco tão intensa que naturalmente não aconteceria", disse.

O especialista também aponta uma mudança no padrão climático da região metropolitana. "Essas rajadas de vento que antes eram valores inusitados, extremos, vão passar a ser frequentes", afirmou. Ele destaca que, nas últimas décadas, esse tipo de evento passou a se repetir anualmente, com registros cada vez mais intensos.

Com base na Escala de Beaufort, que mede a intensidade dos ventos, São Paulo já enfrenta episódios próximos às categorias 10 e 11, com ventos entre 89 km/h e 117 km/h. Criada para a navegação marítima, a escala hoje ajuda a dimensionar impactos em áreas urbanas, onde rajadas intensas começam a fazer parte da rotina.