O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, declarou nesta sexta-feira (12) que, em sua recém-publicada Estratégia de Segurança Nacional, os Estados Unidos preveem uma "retirada estratégica" do hemisfério, e que restringir o uso do Mar do Caribe apenas para beneficiar seus "interesses" é fundamental para isso.
"A intenção é fechar o Caribe aos interesses dos EUA, dominar politicamente os Estados, roubar e se apropriar dos recursos naturais do hemisfério, especialmente os da América do Sul", afirmou o alto funcionário em um discurso, comentando a política hemisférica de Washington.
Em sua visão, os Estados Unidos "começaram a entender" que o mundo não é mais unipolar e, portanto, decidiram concentrar "seus esforços de segurança aqui na América Latina, mas isso à custa da soberania dos Estados, à custa da soberania das nações e de suas democracias na América Latina e no Caribe".
'Não vamos nos render'
Nesse contexto, ele afirmou que as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas "estão levando em consideração" a nova abordagem de Segurança Nacional da Casa Branca e defenderão "o conceito de soberania" da doutrina militar bolivariana, que inclui a defesa do país, mas também a de outras nações do hemisfério que possam estar sob ameaça.
"O governo dos EUA precisa saber que não nos renderemos. É historicamente impossível para nós nos rendermos, depois das lições da história que nossos libertadores nos ensinaram", advertiu.
López também instou as autoridades americanas a não interpretarem o fato de que "200 anos foi há muito tempo" como se, portanto, a República Bolivariana tivesse renunciado à defesa de sua soberania pela força das armas.
"Não, isso foi ontem, e somos os mesmos de ontem: os mesmos rebeldes, os mesmos patriotas e o mesmo povo autodeterminado, amantes da paz, amantes da independência. Somos amantes da soberania, da nossa capacidade de tomar decisões no contexto internacional. Somos soberanos e decidimos com quem nos envolvemos neste novo mundo que está surgindo", concluiu.
Duas mensagens
O ministro afirmou ainda que Washington "precisa entender" que os venezuelanos não são "selvagens", mas sim pessoas com "capacidade racional", que pensam e sentem, mas que diante da persistente disseminação de mentiras pela atual "administração supremacista", "tem que haver uma reação".
López pediu ao povo americano para entender "que seu governo é um instrumento de guerra", como a que pretendem travar "agora e aqui" na América Latina e no Caribe.
"E eles pretendem, caros irmãos e irmãs do povo americano, a quem admiramos profundamente, devolver em sacos, em sacolas pretas e em urnas os cidadãos contribuintes, os jovens da sociedade americana", concluiu.
Cronologia dos ataques
- Escalada militar: em agosto, os Estados Unidos enviaram navios de guerra, submarino, caças e tropas para a costa da Venezuela, sob o pretexto de "combater o narcotráfico". Desde então, foram realizados vários bombardeios a supostas lanchas com drogas no mar do Caribe e no Oceano Pacífico, matando dezenas de pessoas.
- Falsos pretextos: Washington acusou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, sem provas ou fundamentação, de liderar um suposto "cartel de drogas". As mesmas acusações infundadas foram feitas contra o presidente colombiano Gustavo Petro, que condenou os ataques mortais contra embarcações nas águas da região.
- Infiltrações de inteligência: Donald Trump admitiu ter autorizado a CIA a realizar operações secretas em território venezuelano, em meados de outubro. Maduro indagou: "Alguém acredita que a CIA não opera na Venezuela há 60 anos? (...) [Que] não conspira contra o comandante Chávez e contra mim há 26 anos?", perguntou ele.
- Postura venezuelana: Maduro denuncia que o verdadeiro objetivo dos EUA é uma "mudança de regime" para se apoderar da imensa riqueza de petróleo e gás da Venezuela.
- Condenação internacional: O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, condenou os bombardeios realizados pelos EUA contra pequenas embarcações, sob alegações de "combate ao narcotráfico", que resultaram em mais de 60 mortos. Os bombardeios também foram condenados pelos governos de países como Rússia, Colômbia, México e Brasil. Peritos da ONU afirmaram que as ações americanas se tratam de "execuções sumárias", em violação ao direito internacional.