
Maduro defende refundação da Grã-Colômbia diante das tensões com os Estados Unidos

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu nesta quarta-feira (10) ao povo colombiano que "restabeleça" a Grã-Colômbia, uma vasta república fundada por Simón Bolívar que existiu entre 1819 e 1830, nos territórios atuais da Venezuela, Colômbia, Panamá e Equador.
"Saudações das ruas de Caracas ao povo da Colômbia. Digo ao povo da Colômbia: o quanto antes, precisamos restabelecer a Grã-Colômbia. O povo da Venezuela e o povo da Colômbia", declarou o presidente em um comício de massa.
Em seu discurso, Maduro se referiu ao povo colombiano como "irmãos e irmãs, filhos do mesmo pai, filhos da mesma espada e da mesma bandeira: amarela, azul e vermelha", em referência ao papel de Bolívar na libertação das duas nações do jugo espanhol e à semelhança de suas bandeiras, cuja primeira versão foi criada pelo venezuelano Francisco de Miranda.
Maduro não foi o único a reviver a ideia de refundar a nação Grã-Colômbia. Do outro lado da fronteira, o presidente Gustavo Petro também expressou apoio a essa ideia.
"Quero confessar que este presidente quer que revivamos a Grã-Colômbia. E ouso até, sabendo que ainda não somos a maioria — mas podemos ser —, escrever cartas aos presidentes do Equador, da Venezuela e do Panamá, às suas oposições, às suas organizações indígenas, à sua juventude [...], para que possamos nos unir novamente, para que possamos reconstruir a grande confederação Grã-Colômbia, que acredito ser um sonho que não deve ser esquecido, que não morreu com [Simón] Bolívar", declarou ele em abril.

Resposta ao 'Corolário Trump'
A fala do presidente venezuelano surge pouco depois da publicação da Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, que inclui o chamado 'Corolário Trump à Doutrina Monroe', com o qual a nação norte-americana pretende estabelecer sua hegemonia no Hemisfério Ocidental por meio do controle político, econômico e territorial de seus vizinhos do sul.
Sobre este assunto, a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, exortou nesta quarta-feira os países da região a unirem forças para enfrentar a intensificação das estratégias intervencionistas de Washington.
"Irmãos e irmãs da América Latina e do Caribe: ou nos unimos ou sucumbimos. Nós, da Venezuela, desta terra, não estamos dispostos a negociar, a nos render ou a sucumbir. Que digam o que quiserem. Foi assim que desprezaram [Simón] Bolívar, e foi assim que Bolívar partiu com sua espada para libertar seis países", advertiu a alta autoridade na Assembleia Popular pela Soberania e Paz, que está sendo realizada esta semana em Caracas.
A agressão dos EUA
Desdobramento militar: desde agosto, os Estados Unidos mantêm uma força militar significativa posicionada diante das costas da Venezuela, justificando a presença como parte da luta antidrogas. Washington anunciou posteriormente a operação Lança do Sul, com o objetivo oficial de "eliminar os narcoterroristas" do hemisfério ocidental e "proteger" os EUA "das drogas que estão matando" seus cidadãos.
Operações letais: como parte dessas ações, foram realizados bombardeios contra supostas embarcações de narcotraficantes no Caribe e no Pacífico, resultando em mais de 80 pessoas mortas, sem que tenham sido apresentadas provas de que realmente traficavam drogas.
Acusações e recompensa: Washington acusou, sem apresentar evidências, o presidente venezuelano Nicolás Maduro de liderar um cartel de narcotráfico e dobrou a recompensa oferecida por sua captura.
Posição de Caracas: Maduro afirma que o verdadeiro objetivo dos EUA é promover uma "mudança de regime" para se apoderar das vastas riquezas petrolíferas e gasíferas da Venezuela.
Falta de sustentação: a Organização das Nações Unidas (ONU) e a própria Administração de Controle de Drogas (DEA) dos EUA indicam que a Venezuela não é uma rota principal do narcotráfico com destino ao território norte-americano, já que mais de 80% das drogas utilizam a rota do Pacífico.
Condenação internacional: Rússia, o alto comissariado da ONU para os Direitos Humanos e os governos de Colômbia, México e Brasil condenaram as ações norte-americanas. Especialistas classificam os ataques a embarcações como "execuções sumárias" que violam o direito internacional.
