A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, alertou aos Estados Unidos, nesta segunda-feira (8), sobre os riscos de um conflito de grande escala com a Venezuela. Segundo ela, a situação "ameaça ter consequências imprevisíveis para todo o hemisfério ocidental".
Ao responder a perguntas de jornalistas sobre a renovada Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, Zakharova comentou as mudanças previstas para a política norte-americana em relação ao hemisfério ocidental, classificadas no documento como a "Emenda Trump".
A representante russa comparou a proposta do atual governo à chamada "Emenda Roosevelt". A doutrina, formulada pelo então presidente Theodore Roosevelt, reivindicava para Washington o direito de intervir na América Latina sob o pretexto de "estabilizar a situação econômica interna" dos países da região.
"Isso é particularmente alarmante diante das tensões atuais que o Pentágono alimenta deliberadamente em torno da Venezuela. Esperamos que a Casa Branca consiga evitar cair em um conflito de grande escala, que ameaça ter consequências imprevisíveis para todo o hemisfério ocidental", declarou.
A agressão dos EUA
Desdobramento militar: desde agosto, os Estados Unidos mantêm uma força militar significativa posicionada diante das costas da Venezuela, justificando a presença como parte da luta antidrogas. Washington anunciou posteriormente a operação Lança do Sul, com o objetivo oficial de "eliminar os narcoterroristas" do hemisfério ocidental e "proteger" os EUA "das drogas que estão matando" seus cidadãos.
Operações letais: como parte dessas ações, foram realizados bombardeios contra supostas embarcações de narcotraficantes no Caribe e no Pacífico, resultando em mais de 80 pessoas mortas, sem que tenham sido apresentadas provas de que realmente traficavam drogas.
Acusações e recompensa: Washington acusou, sem apresentar evidências, o presidente venezuelano Nicolás Maduro de liderar um cartel de narcotráfico e dobrou a recompensa oferecida por sua captura.
Posição de Caracas: Maduro afirma que o verdadeiro objetivo dos EUA é promover uma "mudança de regime" para se apoderar das vastas riquezas petrolíferas e gasíferas da Venezuela.
Falta de sustentação: a Organização das Nações Unidas (ONU) e a própria Administração de Controle de Drogas (DEA) dos EUA indicam que a Venezuela não é uma rota principal do narcotráfico com destino ao território norte-americano, já que mais de 80% das drogas utilizam a rota do Pacífico.
Condenação internacional: Rússia, o alto comissariado da ONU para os Direitos Humanos e os governos de Colômbia, México e Brasil condenaram as ações norte-americanas. Especialistas classificam os ataques a embarcações como “execuções sumárias” que violam o direito internacional.