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Israel torna Cisjordânia inabitável para forçar saída de palestinos e anexar território, diz Mustafa

Primeiro-ministro da Palestina afirmou que governo israelense busca "convencer o mundo de que não há espaço para um Estado".
Israel torna Cisjordânia inabitável para forçar saída de palestinos e anexar território, diz MustafaGettyimages.ru / Dursun Aydemir/Anadolu

O primeiro-ministro palestino, Mohammad Mustafa, afirmou ao jornal Financial Times que Israel tem ampliado uma estratégia de "anexação gradual" da Cisjordânia, descrita por ele como um esforço para tornar a região "inabitável" e pressionar palestinos a deixar o território. Em entrevista publicada neste domingo (7), Mustafa disse que a política israelense está comprometendo reformas internas da Palestina e inviabilizando a realização de eleições.

Na entrevista, o premiê disse que o objetivo da coalizão liderada por Benjamin Netanyahu seria "fazer as pessoas saírem e facilitar o programa de anexação, dia após dia". 

"Há um reconhecimento crescente de que o objetivo do governo israelense é tornar as coisas inabitáveis", disse Mustafa, afirmando que as ações israelenses levam parte da população a cogitar deixar a região devido ao agravamento das condições.

Desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 e o início da guerra em Gaza, a Cisjordânia vive seu período mais violento em décadas. Conforme dados citados pela reportagem, ataques de colonos judeus expulsaram dezenas de comunidades palestinas, enquanto operações militares israelenses deixaram quase mil mortos. Israel diz que as incursões miram militantes.

O território também enfrenta o maior avanço de assentamentos israelenses "em anos", considerados ilegais pelo direito internacional. Paralelamente, a reportagem afirma que Israel elevou as restrições de circulação ao instalar centenas de barreiras.

Crise financeira

Ao mesmo tempo, a coalizão de direita, que inclui ministros que defendem abertamente a anexação, reteve 3,6 bilhões de dólares (R$ 19,5 bilhões) em receitas alfandegárias devidas à Palestina, aprofundando a crise financeira.

Segundo o Financial Times, a Palestina consegue pagar apenas 60% dos salários e acumula dívida de 14,9 bilhões de dólares (R$ 81 bilhões), incluindo 1,7 bilhão de dólares (R$ 9,2 bilhões) em débitos com o setor privado. O cenário preocupa países vizinhos, diz o jornal, como a Jordânia, que teme um fluxo migratório.

Governos ocidentais impuseram sanções aos ministros da coalizão Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir por incitação à violência, segundo o jornal.

Mustafa afirmou que as ações israelenses buscam minar a Palestina com o intuito de "convencer o mundo de que não há espaço para um Estado".

Eleições

Segundo o texto, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, prometeu eleições nacionais após o fim da guerra em Gaza, englobando Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, consideradas pela Palestina partes essenciais em um futuro reconhecimento de Estado por Israel.

Mustafa afirmou que a fará "tudo o que puder" para realizar o pleito, mas responsabilizou Israel por tentar impedir o processo.

"Como você pode esperar, por exemplo, eleições livres quando o Hamas esteve no comando de Gaza por 17 anos e o governo israelense estava fazendo todo o possível para que a separação continuasse?", questionou.