'Não viemos para morrer heroicamente': assim atuam os exploradores militares russos

Integrante das forças russas relata à RT sua experiência na zona da operação militar especial.

O princípio que guia o militar russo conhecido pelo indicativo Palur é direto. "É preciso lutar de modo que seja o inimigo quem morra." Na zona da operação militar especial, grande parte do trabalho de reconhecimento no campo de batalha é realizada por drones, mas ainda existem missões que só podem ser confiadas a pessoas. É justamente esse tipo de tarefa que Palur executa. Ele contou à RT como atuam os exploradores russos na linha de combate e que tipo de operações realizam.

De empresário a explorador de assalto

Palur, um moscovita de meia-idade, robusto e de cabelos escuros, define sua função com precisão. "Minha especialidade são incursões de sabotagem em profundidade. A 10, 20, 50 quilômetros na retaguarda inimiga." Ele explica que, devido à grande presença de drones, esse tipo de operação não é realizada no momento, já que tanto as forças russas quanto as ucranianas ergueram uma defesa profundamente escalonada, com controle total de qualquer movimento. Ainda assim, acredita que essa situação não será permanente.

Antes da operação militar especial, trabalhava no setor empresarial e vendia eletrodomésticos. No fim de 2022, assinou um contrato e seguiu para Artiomovsk (Bajmut).

Reconhecimento de assalto sob fogo

Ele fala de seu trabalho com evidente entusiasmo. "O reconhecimento de assalto é feito pouco antes do início do avanço. Um grupo sai para identificar ou confirmar posições de fogo do inimigo já detectadas, transmitindo as coordenadas ao comando para garantir o apoio da artilharia", explicou. Em algumas situações, o risco chega ao limite. "Às vezes você chama fogo praticamente sobre si mesmo. Em Bajmut, precisei fazer isso: eu estava a 30 metros do inimigo", contou.

Naquele episódio, seu grupo se aproximou quase a curta distância de uma tropa entrincheirada em uma posição bem camuflada. Assim que entraram na área, foram descobertos e começou o combate com armas leves. Os militares das Forças Armadas da Ucrânia eram superiores em número e a munição do grupo de Palur começou a faltar. Restava apenas uma opção: chamar fogo de artilharia sobre a própria posição.

"Não viemos para a guerra para morrer heroicamente, e sim para viver pela Pátria, não é?", disse Palur, sorrindo. Ele reconhece que "já houve situações diferentes, e alguns rapazes se sacrificaram com granadas para não serem capturados. Mas essa é uma situação extrema". Ao solicitar fogo, o grupo "calculou o risco, tudo correu bem e conseguimos nos retirar aos poucos", relatou.

Drones e risco em campo aberto

Embora os drones de reconhecimento forneçam a maior parte das informações hoje, Palur ressalta que ainda é essencial para um explorador militar se aproximar e observar com os próprios olhos. Nem sempre um drone consegue detectar tudo o que está no terreno.

Recentemente, ele precisou localizar posições de metralhadoras ucranianas. Era impossível atravessar um trecho de terreno aberto: não havia praticamente soldados, mas sim torretas automáticas com metralhadoras calibre 12,7 mm. A missão obrigou o grupo de Palur a cruzar quase toda a área exposta, aproximando-se a cerca de 200 metros das posições e assumindo a cada segundo o risco de ser atingido. Para isso, contam as habilidades de deslocamento furtivo.

Com ajuda de um visor térmico, localizaram as torretas. Depois de identificadas, transmitiram as coordenadas à artilharia, que destruiu as instalações. Só então puderam atravessar com segurança o campo.

"Nossa tarefa é fornecer informações objetivas ao comando, para que possa tomar decisões. Para que nossos rapazes cumpram a missão e sigam vivos."

Palur alerta que "não se pode subestimar o inimigo: há muitos especialistas. E não apenas ucranianos". Ele cita um episódio curioso: "Uma vez um observador de artilharia literalmente caiu de uma árvore perto de nós, dizendo que era cidadão de uma 'república irmã' e que só falaria com oficiais. Então o entregamos ao departamento especial", contou com ironia.

Em outras ocasiões, precisou atravessar a linha de frente não apenas "em busca de informações", mas também de seus próprios companheiros. Recorda uma missão em que precisou resgatar soldados russos soterrados em um porão em território inimigo. Eles estavam há quatro dias incomunicáveis. Para alcançá-los, foi necessário primeiro destruir uma posição ucraniana e depois convencer os próprios soldados de que quem os desenterrava eram, de fato, forças russas.

Histórias do front

Em Bajmut, relata Palur, também houve encontro com mercenários. "Eles atuam com dureza. Mas no terceiro dia começaram a gritar 'Evacuação!', 'Socorro!'". Segundo ele, desse confronto foi possível recolher "um bom material capturado". "Hoje, já não há mercenários diante de nós. Um mobilizado nosso de 2022 é capaz de dar uma lição em qualquer força especial inimiga", afirmou.

Entre os episódios que menciona está o caso em que, segundo sua versão, o Exército de Kiev não permitiu que um de seus soldados se rendesse. O militar ucraniano avançava por uma mata enquanto era acompanhado por um drone russo de reconhecimento, que indicava a direção.

Então, um drone ucraniano FPV surgiu e, por meio de manobras, sinalizou ao soldado que ele deveria voltar. O homem, que pretendia se render, respondeu com um gesto obsceno ao drone ucraniano, deixando claro que não retornaria. Em seguida, o drone ucraniano o matou.

"E eles publicaram o vídeo como se tivéssemos sido nós", disse Palur, indignado. "Mas, ao contrário, estávamos tentando salvá-lo: voávamos à frente, mostrando para onde ir. Não faz sentido matar um inimigo que está vindo sozinho. Ainda mais quando ele pode ter muitas informações valiosas."