Conflito ucraniano, tarifas de Trump contra Índia e retorno ao G8: o que Putin disse à mídia indiana?

Conversa com jornalistas ocorreu durante a visita de Estado do presidente russo à Índia.

Em entrevista concedida nesta quinta-feira (4) ao canal India Today, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, respondeu a várias perguntas desde assuntos da política interna russa até questões da agenda internacional e a situação em outros países.

A conversa ocorreu durante a visita de Estado de Vladimir Putin à Índia nos dias 4 e 5 de dezembro. Durante a viagem, o presidente russo tem agendas com o primeiro-ministro Narendra Modi e com a presidente indiana, Droupadi Murmu.

Cooperação entre Rússia e Índia

O presidente russo enfatizou que a cooperação entre as duas nações abrange diversas áreas e destacou que mais de 90% das transações entre os dois países são realizadas na moeda nacional.

"Temos um plano de cooperação abrangente que cobre as áreas mais importantes: alta tecnologia, exploração espacial e energia nuclear", explicou.

O presidente lembrou que tem relação não apenas comercial, mas também pessoal com o primeiro-ministro indiano. 

"É com grande prazer que me encontro com meu amigo, o primeiro-ministro Narendra Modi", afirmou.

Tarifas de Trump

Em outro tema econômico, o mandatário russo comentou sobre as tarifas impostas pelos EUA à Índia.

"Quem toma medidas para limitar a cooperação econômica de terceiros, cedo ou tarde, sofrerá perdas. E acredito que, assim que esse entendimento se consolidar por completo, essa prática de pressão externa desaparecerá", declarou.

Segundo o presidente russo, "ninguém pode falar com a Índia como se falava há 77 anos. A Índia é uma grande potência, não uma colônia britânica, e todos devem levar isso em consideração". Ele destacou também que Modi "não é do tipo que cede à pressão".

Voltar ao G8?

O presidente russo declarou também que não deseja que a Rússia retorne ao G8, do qual Moscou foi expulsa após a reintegração da Crimeia em 2014.

Putin afirmou que, "em determinado momento", deixou de participar das reuniões do grupo por motivos alheios aos "acontecimentos na Ucrânia", questionando a autodenominação do grupo como os "Sete Grandes" (pela designação em russo).

"O que eles têm de grande?", perguntou Putin.

O presidente afirmou também que a economia da Índia, que não faz parte do grupo, "ocupa o terceiro lugar em poder de compra", posição mais alta que aquela ocupada pelos países do G7. 

"E quanto ao Reino Unido ou a outros países em termos de poder de compra? [...] Eles estão por aí, em décimo lugar", declarou.

Reunião com Witkoff e Kushner

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, comentou também sua reunião com o enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff, e com o genro de Trump, Jared Kushner, dizendo que o encontro foi útil.

Ele destacou que, durante o encontro de terça-feira (2), os EUA propuseram dividir os pontos de seu novo plano de paz em quatro pacotes e debatê-los nesse formato.

Putin afirmou que considera muito difícil alcançar um consenso e chegar a um acordo mutuamente aceitável para as partes envolvidas no conflito ucraniano.

"Parece-me prematuro dizer agora o que especificamente não nos convém e com o que poderíamos concordar, porque isso poderia simplesmente atrapalhar o ritmo de trabalho que o presidente Trump está tentando organizar", declarou o presidente russo.

'De qualquer forma, vamos libertar Donbass'

O presidente russo garantiu que Moscou libertará o Donbass em quaisquer circunstâncias.

Ele observou que existem apenas duas opções para a resolução do conflito, embora apenas um resultado. Segundo Putin, a Rússia libertará os territórios por meio de ação militar, ou "as tropas ucranianas recuam, abandonam esses territórios e param de matar pessoas".

"Durante oito anos, não reconhecemos as repúblicas autoproclamadas [...] Tentamos melhorar as relações entre o resto da Ucrânia e essas repúblicas. Mas quando percebemos que isso era impossível, que elas estavam simplesmente sendo destruídas, fomos forçados a reconhecê-las", observou.

Putin destacou que a situação "chegou a um ponto crítico".