Líderes europeus expressaram profunda preocupação e desconfiança do comando americano das negociações de paz para o conflito ucraniano, revelaram conversas confidenciais acessadas pela agência alemã de notícias Der Spiegel nesta quinta-feira (4).
Durante a chamada telefônica realizada na segunda-feira (1º), cujas transcrições em inglês foram obtidas pelo portal, o presidente da França, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Friedrich Merz, avaliaram que os EUA poderiam "trair" a Ucrânia em relação à questão territorial, sem oferecer garantias claras de segurança.
Macron se referiria à condição do plano de paz acerca da cessão ucraniana das Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk na região do Donbass e das províncias de Kherson e Zaporozhie, que se tornaram parte da Rússia após um referendo popular em 2022 e são ainda hoje parcialmente ocupadas pelos exércitos de Kiev.
Merz afirmou, por sua vez, que o líder do regime de Kiev deveria "ser extremamente cauteloso nos próximos dias", demonstrando ceticismo acerca das intenções da delegação americana, encabeçada pelo enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff, e pelo genro de Trump, Jared Kushner.
"Eles estão brincando, tanto com vocês quanto conosco", opinou o chanceler alemão.
Jogados para escanteio
Outros participantes da conferência também se somaram ao coro de insegurança com a liderança americana e insatisfação com a falta de protagonismo europeu.
O presidente da Finlândia, Alexander Stubb, um dos poucos no velho continente a manter relações próximas com Trump, alertou que também não confiava nos negociadores americanos. "Não podemos deixar a Ucrânia e Vladimir [Zelensky] sozinhos com esses caras", suplicou o finlandês, sendo reiterado pelo secretário geral da OTAN, Mark Rutte.
A reportagem conseguiu confirmar a autenticidade do telefonema por múltiplas fontes, mas os líderes procurados pela agência se recusaram a confirmar a procedência de citações específicas.
Apesar de posicionamentos contrários em pontos-chave do plano de paz encabeçado por Washington às margens de suas lideranças, a União Europeia não consegue formar consensos para promover uma frente unida do bloco continental e apresentar sua própria solução.
- A conferência ocorreu um dia após as delegações dos EUA e da Ucrânia se reunirem na Flórida no domingo (30), a fim de continuar as negociações sobre o plano de paz de Donald Trump. De acordo com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, as conversas foram produtivas, mas ele destacou que ainda há trabalho a ser feito.
- O enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff, e o genro Trump, Jared Kushner, se reuniram no Kremlin com o presidente russo, Vladimir Putin, na terça-feira (2). O encontro, que durou cinco horas, foi descrito pelo presidente russo como "útil", em entrevisa ao veículo de imprensa India Today.
Entenda o teor do plano de paz proposto por Trump.