Investigação da PF aponta que Bacellar avisou TH Joias sobre operação e o orientou a destruir provas

Presidente da Assembleia Legislativa do Rio foi preso por suspeita de vazar informações sigilosas.

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, avisou por telefone o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, sobre a operação que resultaria em sua prisão e o orientado a destruir provas, segundo informações obtidas pela Polícia Federal (PF) e divulgadas pelo portal g1 nesta quarta-feira (3).

Bacellar foi detido na Operação Unha e Carne. A PF afirma que ele é suspeito de repassar dados sigilosos da Operação Zargun, deflagrada em 3 de setembro, quando TH Joias foi preso. Após o aviso, o deputado teria "feito uma limpa" em casa, organizado uma mudança com caminhão-baú e trocado de celular.

No aparelho novo, porém, mensagens não apagadas mostrariam que ele enviou a Bacellar uma filmagem perguntando se deveria levar objetos de casa. O presidente da Alerj respondeu: "Deixa isso, tá doido? Larga isso aí, seu doido", de acordo com a PF.

A corporação apura quem teria repassado as informações a Bacellar. As mensagens foram encontradas no celular novo de TH Joias, segundo a investigação.

Prisão de TH Joias

TH Joias foi preso em 3 de setembro por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, sob suspeita de negociar armas e acessórios para o Comando Vermelho (CV). Ele foi alvo de duas operações simultâneas, uma autorizada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) e outra pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ).

A PF afirma ter identificado "um esquema de corrupção envolvendo a liderança da facção no Complexo do Alemão e agentes políticos e públicos".

Para o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), o deputado utilizou o mandato para favorecer o CV, inclusive nomeando comparsas para cargos na Alerj.

Na Operação Zargun, que originou a apuração sobre o vazamento, foram expedidos 18 mandados de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão, além do sequestro de R$ 40 milhões em bens.

A investigação é conduzida pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF e pelo Ministério Público Federal. Segundo a PF, a organização "infiltrava-se na administração pública para garantir impunidade e acesso a informações sigilosas, além de importar armas do Paraguai e equipamentos antidrone da China, revendidos até para facções rivais".

Os investigados respondem por organização criminosa, tráfico internacional de armas e drogas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

Paralelamente, no âmbito da Operação Bandeirante, o MPRJ denunciou TH Joias e outras quatro pessoas por associação para o tráfico e comércio ilegal de armas de uso restrito.

A acusação aponta vínculos estáveis com o Comando Vermelho e atuação nos complexos da Maré, Alemão e em Parada de Lucas, incluindo a intermediação de drogas, armas e equipamentos antidrones, além da movimentação de grandes quantias em espécie.

A ação penal, proposta pelo procurador-geral de Justiça do RJ, Antonio José Campos Moreira, resultou em quatro mandados de prisão e cinco de busca e apreensão em endereços na Barra da Tijuca, Freguesia e Copacabana.

A Operação Unha e Carne integra a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Rio de Janeiro (Ficco/RJ), formada pela Polícia Federal, Ministério Público Federal, Polícia Civil do RJ e MPRJ.