O secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, afirmou nesta terça-feira (2), durante reunião ministerial, que Washington está "apenas começando" a atingir lanchas do narcotráfico no Caribe e no Pacífico — ações que a Venezuela denuncia como "execuções extrajudiciais" ordenadas pela Casa Branca.
"Estamos apenas começando a golpear embarcações de narcotraficantes e a lançar narcoterroristas no fundo do oceano", disse Hegseth durante coletiva ao lado do presidente dos EUA, Donald Trump.
O secretário de Guerra dos EUA justificou a ofensiva dizendo que os cartéis "se apoderam das comunidades" e que ao menos "20 milhões de pessoas" no país estão sendo envenenadas por suas drogas.
Ele também atacou o governo anterior, afirmando que Joe Biden tentou lidar com o problema "com luvas de seda", permitindo que narcotraficantes "cruzassem a fronteira" para os EUA.
Trump, que falou na mesma ocasião, associou as operações a uma redução de 91% na quantidade de drogas que entram em seu país.
Execuções extrajudiciais
A Venezuela classifica as mortes provocadas por militares dos EUA no Caribe como "execuções extrajudiciais".
O presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, afirmou no último fim de semana que a diretoria da Assembleia Nacional se reuniu com "familiares de venezuelanos assassinados, executados extrajudicialmente, nas ações claramente ilegítimas e ilegais que vêm sendo perpetradas desde 2 de setembro por militares dos EUA".
Rodríguez afirmou que, no Parlamento, foram analisados estudos de especialistas em direito internacional que avaliam que, se essas mortes tivessem ocorrido no contexto de uma "guerra declarada entre países", poderiam inclusive ser classificadas como "crimes de guerra".
Ele também denunciou que "ninguém, em pleno século XXI, pode se colocar como juiz e parte e, ao mesmo tempo, executar a pena de morte de uma pessoa sem o devido processo, o sagrado direito que todo ser humano tem à defesa e à apuração dos fatos que possam ou não constituir um crime".
Cronologia dos ataques
- Em agosto, os Estados Unidos enviaram navios de guerra, um submarino, caças e tropas para a costa da Venezuela, alegando sua suposta disposição em combater o narcotráfico. Desde então, foram realizados vários bombardeios a supostas lanchas com drogas no mar do Caribe e no Oceano Pacífico, deixando dezenas de mortos.
- Washington acusou Maduro, sem provas ou fundamentação, de liderar um suposto cartel de drogas. As mesmas acusações infundadas foram feitas contra o presidente colombiano Gustavo Petro, que condenou os ataques mortais contra embarcações nas águas da região.
- Em meados de outubro, o presidente dos EUA, Donald Trump, admitiu ter autorizado a CIA a realizar operações secretas em território venezuelano. Em resposta, Maduro perguntou: "Alguém acredita que a CIA não opera na Venezuela há 60 anos?" "Alguém acredita que a CIA não conspira contra o comandante [Hugo] Chávez e contra mim há 26 anos?", perguntou ele.
- As ações e pressões de Washington foram classificadas por Caracas como uma agressão, que questiona a real razão por trás das operações.
- O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, condenou os bombardeios realizados pelos EUA contra pequenas embarcações, supostamente para combater o narcotráfico, que resultaram em mais de 60 mortos. Especialistas e governos classificaram os ataques como execuções extrajudiciais. As ações e pressões de Washington foram classificadas por Caracas como uma agressão, que questiona a real razão por trás das operações.
- Os bombardeios também foram criticados pelos governos de países como Colômbia, México e Brasil, bem como por peritos da ONU, que afirmaram tratar-se de "execuções sumárias", em violação ao que consagra o direito internacional.