O Governo da Colômbia solicitou formalmente à Espanha a devolução da 'Coleção Quimbaya', composta por mais de 120 objetos arqueológicos de origem pré-hispânica que estão no Museu da América de Madri, a capital espanhola.
A solicitação foi enviada através da Chancelaria e do Ministério das Culturas, Artes e Conhecimento da Colômbia em uma carta endereçada ao ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, e ao Ministro da Cultura, Ernest Urtasun Domènech, segundo as mídias locais dos dois países.
A mídia colombiana W Radio detalhou que a carta foi assinada pelo chanceler da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, e pelo ministro da Cultura, Juan David Correa, que explicaram a importância da coleção arqueológica mencionada para o país, e que sua devolução representa outro passo rumo à descolonização.
Por sua vez, o veículo El Diario de España, que teve acesso à carta enviada por Bogotá a Madri, indicou que o chamado 'Tesouro de Quimbaya' chegou ao país europeu no final do século XIX, quando o então presidente colombiano Carlos Holguín deu essas peças à rainha María Cristina como um presente para agradecê-la por sua mediação em um conflito fronteiriço com a Venezuela.
No entanto, o luxuoso presente de Holguín foi amplamente criticado porque o deu à Espanha sem a aprovação do Congresso da Colômbia, um ato considerado irregular, que violou a soberania e as leis colombianas.
"Esse presente para a Espanha foi feito por uma pessoa ilegítima que, embora representasse o Governo na época, em 1892, não seguiu as regras que existiam naquele momento nem as regras que existem agora de consultar os verdadeiros proprietários", disse o ministro da Cultura colombiano ao El Diario, destacando que esse incidente foi um "ato brutal para o patrimônio".
Aprovação do Tribunal da Colômbia
O pedido do Governo de Gustavo Petro à Espanha também tem a aprovação do Tribunal Constitucional da Colômbia, que em 2017 indicou em uma decisão que "a transferência da 'Coleção Quimbaya' violou normas claras da Constituição política de 1886, então em vigor".
Por essa razão, indicou o tribunal constitucional, o Governo colombiano deve iniciar os processos de repatriação desses bens ancestrais que fazem parte do patrimônio histórico da Colômbia e da sua soberania.
"A coleção é composta de bens arqueológicos (cerâmica, ourivesaria, líticos e orgânicos) associados ao período Quimbaya Clássico que foram saqueados por guaqueros locais e entregues pelo Governo colombiano ao Reino da Espanha em 1893, desconhecendo seu valor cultural para nossa nação", indicaram os ministros colombianos na carta enviada a seus colegas espanhóis em 9 de maio.
O ministro Correa disse ao El Diario que está tentando iniciar conversas com o seu colega espanhol, Urtasun, que meses atrás falou em "descolonizar" os museus da Espanha.
"Não estamos exigindo nada. Não somos um Governo que quer agir com força. Apenas uma conversa sobre a posição do Ministério da Cultura, do ministro e do Governo espanhol sobre a possível devolução da coleção Quimbaya", sublinhou.