Não há vazio político para a esquerda e é a direita que precisa de um nome, avaliou o ex-presidente nacional e articulador político do Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu, em entrevista ao Estadão publicada neste domingo (30).
Dirceu foi cassado em 2005 no auge do escândalo do Mensalão, a quem se atribuiu a liderança pelo então ministro Joaquim Barbosa, relator do processo no Supremo Tribunal Federal, que o condenou pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha em 2012.
Preso em 2013, Dirceu advoga por sua inocência e critica a postura do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu partido diante das recentes condenações por tentativa de golpe de Estado. "Eu cumpri minha pena. Eu não fugi", afirma o ex-ministro da Casa Civil do primeiro mandato de Lula.
"Eu não vou dar conselho nenhum para o Bolsonaro, porque ele não merece. Bolsonaro sempredefendeu prisão perpétua e justificou a tortura. (...) Agora, hipocritamente, querem apresentarprojetos para mudar o Código Penal e, conforme o tipo de crime, reduzir as penas", afirmou.
"Não existe polarização; existe politização"
Segundo Dirceu, o movimento em torno de Bolsonaro segue ativo, embora não seja esperada como uma força majoritária nas próximas eleições. "Por que a pessoa está presa sai de cena? Não necessariamente. Ele tem um filho senador, um filho deputado, um filho vereador, esposa que quer ser candidata a senadora e tem outro filho que quer ser candidato a senador", afirmou durante a entrevista.
Ele reafirma que os nomes de Lula e Bolsonaro no cenário político nacional são sustentados por disputas concretas de projetos, e não apenas por antagonismos afetivos. "Não existe polarização, existe politização", indicou, ressalvando que a mobilização do PL de Bolsonaro em torno da sua anistia não é algo com que o eleitorado brasileiro simpatize, criando um dilema eleitoral para os grupos que o apoiaram anteriormente contra as candidaturas petistas.
A mais provável oposição à eleição do presidente Lula para um quarto mandato em 2026, segundo Dirceu, é o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), quem identifica como o representante das elites agrárias e financeiras do país.
"O que o Tarcísio está pregando? Vender o Banco do Brasil, a Caixa, o BNDES, privatizar a Petrobras, desvincular o salário mínimo da Previdência? É tudo o contrário do que nós pensamos".
Dirceu identifica nomes como o da prefeita de Contagem, Marília Campos, e do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, para eventuais nomeações do PT à disputa eleitoral nos estados centrais de Minas Gerais e São Paulo, respectivamente, embora aponte que Alckmin deve novamente integrar a chapa de Lula em 2026.
Crime organizado
Dirceu aponta ainda a necessidade de revitalização do Partido dos Trabalhadores, identificando que a nova "realidade geopolítica" impõe questões prioritárias, como a revolução tecnológica, a questão climática e o crime organizado.
Em relação à pauta criminal, ele defende a criação de um ministério exclusivo para a segurança pública e reafirma a responsabilidade do governo federal de coordenar esforços de "proximidade, inteligência e infiltração" nos esquemas financeiros.
Alternativamente, Dirceu alfineta os métodos do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, notórios após a operação Contenção no Complexo do Alemão e da Penha e, mais recentemente, pela operação Barricada Zero.
"As pesquisas mostram que a maioria dos brasileiros quer que o governo federal assuma isso, não podemos mais tolerar", ressalta Dirceu, enfatizando o combate à lavagem de dinheiro. "A Operação Carbono faz muito mais mal ao crime organizado do que cinco operações dessas do governador [Cláudio Castro]".