
Por que a revisão em massa do avião mais popular da Airbus é um duro golpe para o tráfego aéreo mundial?

A Airbus, um dos principais fabricantes mundiais de aeronaves de transporte de passageiros, emitiu na sexta-feira (28) um pedido de revisão global de cerca de 6.000 aeronaves da família A320, mais da metade de todos os A320 em serviço, após descobrir uma vulnerabilidade no software. A solução deve ser aplicada antes que qualquer aeronave afetada possa voltar a voar.
A que se deve a retirada?
A decisão foi tomada após um incidente em pleno voo de uma aeronave pertencente à companhia aérea JetBlue, no qual uma repentina "queda de altitude não controlada" causou uma descida de emergência do avião. O incidente, que ocorreu em 30 de outubro durante um voo entre Cancún (México) e Nova Jersey (EUA), causou ferimentos a vários passageiros.

A investigação indicou que a intensa radiação solar interferia com os computadores do avião, o que poderia corromper dados de controle essenciais.
Um boletim da Airbus, citado pela Reuters, atribuiu o problema a um sistema de voo chamado "ELAC" (Computador de Elevador e Alerones), que envia comandos da alavanca lateral do piloto para os elevadores traseiros. Estes, por sua vez, controlam o ângulo de inclinação ou nariz do avião.
Por que a falha é tão perigosa?
Em um avião com controle eletrônico de voo (fly-by-wire) como o A320, os controles de software dirigem tudo: piloto automático, inclinação, altitude, superfícies de controle.
Se esses sistemas forem corrompidos, os pilotos podem perder repentinamente o controle ou as proteções automatizadas podem falhar, com pouco tempo para reagir.
Qual é a solução?
A solução envolve principalmente voltar a um software anterior e é relativamente simples, mas deve ser realizada antes que os aviões possam voar novamente, além de reposicioná-los em centros de reparo, diz um boletim enviado às companhias aéreas.

Qual será o impacto?
Existem cerca de 11.300 aeronaves da família A320 em operação, incluindo 6.440 do modelo principal A320, que voou pela primeira vez em 1987. Quatro das 10 maiores operadoras de A320 do mundo são importantes companhias aéreas americanas: American Airlines, Delta Air Lines, JetBlue e United Airlines. As companhias aéreas chinesas, europeias e indianas também estão entre os principais clientes da aeronave.
Para aproximadamente dois terços das aeronaves afetadas, a chamada para revisão resultará em uma breve imobilização enquanto as companhias aéreas voltam a uma versão anterior do software, indicaram fontes do setor. Ao mesmo tempo, o restante, segundo informam os meios de comunicação, precisa de mudanças de hardware, o que pode levar dias ou até semanas. Isso significa que grande parte da frota mundial de A320 poderá permanecer em terra, interrompendo os voos até bem depois da temporada de Natal.
Isso ocorre também em um momento em que os hangares de reparos das companhias aéreas já estão sobrecarregados com tarefas de manutenção, já que centenas de aeronaves Airbus foram imobilizadas devido aos longos tempos de espera para reparos ou inspeções de motores. A indústria também sofre com a escassez de mão de obra, apontaram os especialistas.
Além disso, uma falha sistêmica que afeta tantos aviões mina a confiança do público na segurança das viagens aéreas comerciais e levanta questões sobre quantos "riscos invisíveis" ainda podem estar latentes no software das aeronaves em todo o mundo.

O que dizem as companhias aéreas afetadas?
Companhias aéreas dos EUA para a América do Sul, Europa, Índia e Nova Zelândia alertaram que os reparos podem causar atrasos ou cancelamentos de voos.
A maior operadora de A320 do mundo, a American Airlines, indicou que cerca de 340 de suas 480 aeronaves A320 precisariam de reparos. Ela acrescentou que esperava que esses reparos fossem concluídos até sábado, com cerca de duas horas de trabalho por aeronave.
Outras companhias comunicaram que retirariam brevemente as aeronaves de serviço para realizar os reparos, incluindo a alemã Lufthansa, a indiana IndiGo e a easyJet, com sede no Reino Unido. Posteriormente, a empresa britânica anunciou que já havia concluído o trabalho. A Air France informou o cancelamento de 35 voos, 5% do total diário da companhia aérea.
A companhia aérea colombiana Avianca informou que a retirada afetou mais de 70% de sua frota, o que a levou a suspender a venda de passagens para datas de viagem até 8 de dezembro. A mexicana Volaris indicou que sofreria atrasos ou cancelamentos de até 72 horas.
Tudo o que você precisa saber sobre o avião emblemático “Made in Russia”, a alternativa russa à Airbus e à Boeing, neste artigo.

