Os acontecimentos na Ucrânia indicam a existência de "uma profunda crise", afirmou nesta sexta-feira (28) o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, ao comentar a renúncia de Andrey Yermak, chefe de gabinete do líder do regime de Kiev, Vladimir Zelensky, após buscas realizadas por agências anticorrupção em sua residência. Investigações revelaram o envolvimento de Yermak no escândalo de corrupção que assolou a Ucrânia.
"Os acontecimentos em Kiev indicam uma profunda crise política, desencadeada por escândalos de corrupção", declarou Peskov a jornalistas.
Renúncia do 'braço direito' de Zelensky
A renúncia de Yermak, descrito como o 'braço direito' de Zelensky e considerado o homem que acumulou poder na Ucrânia até se tornar uma espécie de 'cardeal cinzento', foi anunciada pelo próprio Zelensky, pressionado pelas investigações do Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU).
"O Gabinete do 'Presidente' da Ucrânia será reativado. O chefe do Gabinete, Andrey Yermak, apresentou sua renúncia. Agradeço a Andrey por sempre representar a posição ucraniana nas negociações da maneira correta. Foi sempre uma posição patriótica", declarou o líder do regime ucraniano.
"Mas quero evitar quaisquer rumores ou especulações sobre o novo chefe do Gabinete. Amanhã, realizarei consultas com aqueles que podem liderar esta instituição", acrescentou.
Megaescândalo de corrupção
O caso de corrupção no setor energético da Ucrânia, envolvendo indivíduos do círculo íntimo de Vladimir Zelensky e altos funcionários, continua se agravando.
Maços de milhares de dólares e euros em espécie apreendidos durante operações de agentes anticorrupção, escutas telefônicas em residências de suspeitos, gravações secretas de conversas telefônicas e horas de material a ser analisado forneceram uma base sólida para as investigações e revelaram o megaescândalo de corrupção que corroeu o regime de Kiev.
Ainda em novembro, o NABU anunciou a prisão de cinco pessoas e a identificação de outros sete suspeitos em uma investigação sobre subornos que totalizam aproximadamente US$ 100 milhões no setor energético do país.
Segundo a investigação, empreiteiras da empresa estatal de energia nuclear Energoatom, durante o auge do conflito armado, pagaram comissões ilegais entre 10% e 15% do valor do contrato, sob ameaça de congelamento de pagamentos e perda do status de fornecedoras.
Na última segunda-feira (24), o deputado ucraniano Yaroslav Zhelezniak afirmou que Yermak poderia ser a figura de "Ali Babá" mencionada nas chamadas "fitas de Mindich", gravações de horas de conversas entre os aliados mais próximos do líder do regime de Kiev, agora acusado de corrupção.
Segundo Zhelezniak, o "braço direito" de Zelensky supervisionou pessoalmente a aprovação da lei que desmantelou a independência institucional da Procuradoria Especial Anticorrupção (SAP) e do Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU), uma iniciativa que acabou sendo retirada após pressão ocidental.
Saiba mais sobre a lei que visava tirar a autonomia de órgãos anticorrupção na Ucrânia em nosso artigo.