Dez anos após levar cem mil pessoas à capital federal, a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver voltou a ocupar as ruas de Brasília nesta terça-feira (25). Vindas de todos os estados brasileiros, as participantes trouxeram à capital uma pauta urgente: o direito ao descanso e a luta contra o regime de trabalho exaustivo que, segundo elas, remonta aos tempos da escravidão.
No centro das reivindicações, está o fim da chamada escala 6x1 – modelo que garante apenas um dia de descanso semanal, mas que, na prática, para muitas mulheres negras, se torna um ciclo contínuo de exploração.
"O fim da escala 6x1, onde as mulheres negras lutam, não é contra o trabalho, mas é pelo descanso, o descanso que historicamente sempre nos foi negado", afirmou à RT Daiane Guimarães, bibliotecária e participante da marcha.
"Muitas vezes mulheres vêm trabalhando desde criança. Isso vem muito da nossa história, desse país escravocrata, de um país que sempre negligenciou o direito das mulheres"
A mobilização também destacou a urgência da PEC 27-2024, que propõe a criação do Fundo Nacional de Reparação Econômica e de Promoção da Igualdade Racial. A proposta busca garantir mecanismos concretos de reparação histórica à população negra no Brasil, alvo de quase quatro séculos de escravidão. "Que as autoridades nos lembrem e enxerguem aqui para que nós possamos conseguir toda a nossa luta de todos esses anos", declarou à RT a ativista Marisa Silva.
As mulheres presentes reafirmaram o compromisso coletivo com a construção de um futuro diferente. "Hoje essa marcha das mulheres, depois de 10 anos, é significativa, é de suma importância pelo bem viver, pela luta das mulheres negras, das nossas crianças, dos nossos filhos", afirmou Marisa. "É um pensamento no futuro, para mais dignidade, por reparação dos nossos direitos, do que nos foi tirado".
A manifestação foi marcada por palavras de ordem, cantos, cartazes e falas que reforçaram a importância de tornar visível as múltiplas dimensões das violências enfrentadas pelas mulheres negras: da sobrecarga no trabalho às políticas públicas ausentes.
"Hoje a gente está aqui – meninas, mulheres, adolescentes, as nossas mais antigas, a juventude – para dizer, para dar um basta e dizer que hoje a nossa luta é para o nosso bem viver", declarou Daiane. Outra participante completou: "É uma forma de a gente mostrar que podemos estar aqui e lutar por o ideal de nós mesmas".