Unidades do agrupamento de tropas Tsyentr ('Centro') da Rússia neutralizaram e capturaram mais combatentes das Forças Armadas da Ucrânia que tentaram fugir de Krasnoarmeisk (conhecida como Pokrovsk na Ucrânia), cidade estratégica sitiada desde o final do mês passado, informou o Ministério da Defesa russo nesta segunda-feira (24).
Ao perceberem que estavam cercados pelas tropas russas e abandonados por seu comandante, três militares ucranianos decidiram abandonar suas posições em Krasnoarmeisk, na República Popular de Donetsk. Tentando romper o cerco, refugiaram-se em uma casa perto da estação de trem, mas foram descobertos pelas tropas do grupo Tsyentr.
Os soldados tentaram resistir e feriram um dos soldados russos, o que resultou na morte de dois deles. O terceiro, o militar ucraniano Nikolai Babchuk, se rendeu.
Abandonados e famintos
Segundo Babchuk, os soldados do Exército ucraniano em Krasnoarmeisk foram abandonados por seus comandantes e passavam fome: "Fiquei nessa situação por um mês e meio. Os suprimentos chegavam uma vez por semana: jogavam biscoitos e água. Eu tinha que correr pelos campos procurando por eles como se fossem cogumelos".
"Uma semana, depois duas, três, quatro. Eu estava farto disso. Você fala com o comando e diz que precisa de uma mudança, uma rotação ou uma retirada. E a resposta é: 'Não sei de nada'. Nós nos cansamos disso e deixamos nosso local de missão por conta própria", disse ele.
O prisioneiro de guerra ucraniano ainda aconselhou seus compatriotas presos na sitiada Krasnoarmeysk a se renderem: "Eles não vão sair de Krasnoarmeysk. É melhor se render e sobreviver. Pelo menos serão alimentados e tratados com dignidade. Não morrerão de fome", declarou.
O comandante da companhia de fuzileiros motorizados, Azat Akhmedov, observou que "quando alguém se rende, ninguém vai torturá-lo. Ele será tomado como prisioneiro de acordo com todos os regulamentos e levado para a retaguarda".
Recrutamento forçado
Babchuk também relatou que, antes de ingressar no exército, trabalhava como paisagista e foi recrutado à força.
"Eu estava dirigindo, era meu último ponto de parada. Entrei na cidade e lá estavam eles. Policiais, recrutadores e agentes do SBU (Serviço de Segurança da Ucrânia) pararam ao lado do meu carro. Fui preso. O carro foi levado para o escritório de registro e alistamento militar. Lá, fui submetido a um exame médico", recordou.
Babchuk contou que, no posto de recrutamento, os novos recrutas eram amarrados, privados de água e mantidos no escuro. "Ninguém sabia de nada: para onde estávamos sendo levados, como ou por quê. Eles nos levaram [aos postos] como gado", disse. Ele também observou que, dos 100 homens de sua unidade, 20 desertaram.
"Talvez tenham subornado alguém, talvez tenham pulado a cerca, talvez simplesmente avançaram na marra", supôs.
Kiev reconhece "situação complicada"
No início de novembro, o comandante em chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Alexander Syrsky, classificou a situação no campo de batalha como "complicada".
"A situação operacional na frente de batalha continua desafiadora", escreveu o oficial no Telegram. Ele acrescentou que o Exército de Kiev está concentrando seus "principais esforços em suprimir" os russos.
- No final de outubro, Moscou relatou que cerca de 5 mil soldados ucranianos ficaram cercados ao redor da cidade estratégica de Kupiansk e 5,5 mil ao redor de Krasnoarmeisk. As forças russas frustraram dezenas de tentativas dos soldados ucranianos de romper o cerco.
- Na semana passada, alguns dos soldados ucranianos cercados pelo Exército russo em Krasnoarmeisk começaram a se render. Dois deles descreveram as condições terríveis do cerco e a indiferença do comando ucraniano, e apelaram para que os que ainda estavam presos se rendessem:"Suponho que não haja mais nada que se possa fazer aí. Não vejo sentido em resistir e continuar firme. Sugiro que todos se rendam. Assim vocês sobreviverão. Caso contrário, morrerão. É só isso. É muito simples".