Na véspera de sua visita à China, o presidente russo Vladimir Putin concedeu uma entrevista à agência de notícias Xinhua.
Putin explicou que escolheu a China como o destino de sua primeira viagem ao exterior após sua posse, tendo em vista "o nível de parceria estratégica sem precedentes entre nossos países".
Relações entre a Rússia e a China
O mandatário enfatizou que a parceria russo-chinesa sempre se baseou nos "princípios de igualdade e confiança, respeito mútuo pela soberania e consideração dos interesses de cada um".
"Hoje, as relações russo-chinesas atingiram o mais alto nível de sua história e, apesar da difícil situação mundial, continuam a se fortalecer".
O presidente russo enfatizou que os laços entre Pequim e Moscou são "independentes da ideologia e da conjuntura política". "Seu desenvolvimento multifacetado é uma escolha estratégica consciente baseada na ampla coincidência de interesses nacionais fundamentais, profunda confiança mútua, forte apoio público e amizade sincera entre os povos dos dois países", reiterou.
Laços econômicos
O comércio entre os dois países dobrou nos últimos cinco anos, atingindo 227,8 bilhões de dólares no ano passado. Ao mesmo tempo, mais de 90% dos pagamentos são feitos em moedas nacionais, acrescentou o presidente russo.
Moscou e Pequim estão desenvolvendo sua cooperação no campo da energia e da agricultura, enquanto várias iniciativas estão sendo realizadas na esfera do investimento e da indústria, e os corredores de logística e transporte estão sendo fortalecidos.
A Rússia e a China planejam desenvolver sua colaboração nas áreas de alta tecnologia, espaço, átomo pacífico, inteligência artificial, fontes de energia renovável e infraestrutura de transporte e finanças, disse o chefe de Estado russo.
BRICS
Questionado sobre prioridades e planos de trabalho dentro do grupo BRICS, Putin observou que um dos principais objetivos da Rússia é "a integração orgânica de novos membros". Outra prioridade é continuar trabalhando para fortalecer a autoridade do grupo nos assuntos globais, para aumentar sua capacidade de "promover um sistema de relações internacionais mais democrático, sustentável e justo".
Nesse contexto, o líder russo indicou que o BRICS atrai os países do Sul e do Leste Global, que o veem como "uma plataforma onde suas vozes serão ouvidas e levadas em consideração".
O Ocidente tenta impor uma ordem baseada na hipocrisia
Na entrevista, Putin disse que as elites ocidentais buscam preservar seu domínio global e atribuíram-se "o direito de dizer a outros povos com quem podem ser amigos e cooperar e com quem não podem", sem levar em consideração os interesses soberanos desses povos.
A Rússia e seus aliados, por sua vez, não querem tolerar essa situação. "Com nossa participação ativa, parcerias e mecanismos multilaterais independentes do Ocidente, cuja atividade se baseia nos princípios de igualdade, justiça, abertura, respeito e consideração mútua dos interesses de cada um, foram criados e operam com sucesso", declarou o presidente russo.
Em suas palavras, a Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e o BRICS se estabeleceram firmemente como "pilares fundamentais da ordem mundial multipolar emergente". A Rússia e os países membros dessas organizações têm posições semelhantes em relação às principais questões da agenda internacional, disse ele.
"Defendemos a regra do direito internacional, a segurança igual, indivisível, abrangente e sustentável, tanto em nível global quanto regional, sob o papel central da coordenação da ONU. E rejeitamos as tentativas do Ocidente de impor uma ordem baseada em mentiras, hipocrisia e regras míticas inventadas sabe-se lá por quem".
Conflito na Ucrânia
Putin enfatizou que Moscou avalia positivamente as abordagens da China no que diz respeito a uma solução para o conflito na Ucrânia. Ao comentar sobre os quatro princípios propostos por Xi Jinping para resolver o conflito, o presidente russo afirmou que eles complementam o plano de paz apresentado por Pequim em fevereiro de 2023.
As medidas propostas para rejeitar interesses criados e a escalada da tensão, bem como para minimizar o impacto negativo da crise na economia global, "desenvolvem ideias sobre a necessidade de superar a mentalidade da Guerra Fria, a indivisibilidade da segurança, o respeito pelas normas do direito internacional e a Carta da ONU em sua totalidade e inter-relação", afirmou o líder russo. No entanto, a Ucrânia e seus apoiadores ocidentais não apoiam as iniciativas em questão e "não estão prontos para um diálogo igualitário, honesto e aberto".
De acordo com Putin, Kiev e o Ocidente não querem abordar as causas fundamentais da crise porque "foram suas políticas nos anos e décadas anteriores que levaram às atuais turbulências globais".
Primeira viagem ao exterior depois de assumir o cargo
A visita de Putin à China ocorrerá nos dias 16 e 17 de maio e será sua primeira viagem ao exterior após sua posse na semana passada. Depois de ser convidado a visitar o país por seu colega chinês Xi Jinping, Putin visitará Pequim e Harbin.
Durante a viagem, Putin e Xi discutirão detalhadamente toda a gama de questões da parceria abrangente e da cooperação estratégica, "identificarão as principais direções para o desenvolvimento futuro da cooperação prática russo-chinesa" e trocarão opiniões sobre as principais questões internacionais. Após as conversas, eles assinarão uma declaração conjunta e outros documentos bilaterais.
Além disso, os dois líderes participarão de um evento dedicado ao 75º aniversário das relações diplomáticas entre a Rússia e a China.