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China acusa Japão de fazer ameaça de 'intervenção armada' após declarações sobre Taiwan

Governo chinês enviou carta à ONU afirmando que posicionamento de Tóquio é "provocação aberta" e viola o direito internacional.
China acusa Japão de fazer ameaça de 'intervenção armada' após declarações sobre TaiwanGettyimages.ru / Michael M. Santiago

A China acusou o Japão de fazer uma ameaça de "intervenção armada" em Taiwan após declarações da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, de que Tóquio poderia adotar medidas caso Pequim mobilize forças militares na ilha. A reação chinesa foi formalizada em uma carta enviada na sexta-feira (21) ao secretário-geral da ONU, António Guterres, pelo representante permanente da China na organização, Fu Cong.

No documento, Cong afirma que Takaichi fez declarações "abertamente provocadoras" sobre Taiwan e se tornou a primeira líder japonesa desde 1945 a "expressar ambições de intervenção armada". Segundo o diplomata, as afirmações equivalem a "uma ameaça de uso da força contra a China" e desafiam "abertamente" os interesses "fundamentais" de Pequim.

A carta sustenta que as declarações são "extremamente errôneas e perigosas" e que, apesar de "múltiplos atos solenes e firmes protestos" da China, o governo japonês "se nega a retificar e a retirar" o posicionamento. Cong registrou "profunda insatisfação" e a "firme oposição" de Pequim.

O representante também argumenta que os comentários da premiê "violam gravemente o direito internacional" e "os princípios básicos das relações internacionais", além de "ameaçar seriamente o ordenamento internacional do pós-guerra". Cong classificou o episódio como "uma aberta provocação" aos povos que "sofreram a agressão japonesa".

Na carta, a China reitera que Taiwan é "parte indivisível" do território chinês e afirma que todas as questões relacionadas à ilha são "um assunto dos próprios chineses, sem admitir injerências estrangeiras". Cong alerta que qualquer intervenção militar japonesa no estreito de Taiwan seria considerada "um ato de agressão" e afirma que o país exercerá "com determinação" seu direito de autodefesa.

O diplomata também insta o Japão a refletir "profundamente" sobre seus "crimes históricos", cumprir "compromissos políticos" referentes a Taiwan e suspender "provocações" e "cruzamento de linhas vermelhas".

As tensões cresceram após Takaichi sugerir, em 11 de novembro, de acordo com a mídia japonesa, que uma ação militar da China em Taiwan poderia levar a uma resposta equivalente de Tóquio. Embora governos japoneses tradicionalmente evitem discutir cenários de conflito envolvendo a ilha, a premiê classificou o tema como "uma situação que ameaça a sobrevivência".

Pequim acusou Tóquio de promover o "ressurgimento do pensamento militarista" e manifestou preocupação com a possibilidade de revisão dos princípios japoneses sobre armas nucleares, que impedem o país de possuir, fabricar ou permitir a entrada desse tipo de armamento em seu território. Informações recentes da mídia local indicam que Takaichi considera revisar o status não nuclear mantido desde os anos 1960.

  • Taiwan é autogovernada desde 1949, mas é considerada por Pequim como parte "inalienável" de seu território. Em outubro de 2024, o Ministério das Relações Exteriores chinês já havia reiterado que a ilha "nunca foi um país nem jamais o será", reforçando que a posição oficial de Pequim permanece inalterada diante do que descreve como declarações separatistas das autoridades de Taipé.
  • A maioria dos países, incluindo a Rússia, reconhece a ilha como parte integrante da República Popular da China.