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Imprensa: UE critica plano de paz de Trump por impedir 'roubo' de ativos russos

Indignados, funcionários europeus aconselham que elaboradores do plano consultem "psiquiatra" e acusam presidente dos EUA de querer lucrar com proposta.
Imprensa: UE critica plano de paz de Trump por impedir 'roubo' de ativos russosbymuratdeniz / Gettyimages.ru

Os patrocinadores europeus de Kiev indignaram-se com os novos detalhes do plano de paz norte-americano, que impediria seus esforços de transferir ativos russos congelados à Ucrânia, informou o Político nesta sexta-feira (21), citando fontes.

O veículo lembra que, durante meses, a União Europeia (UE) tentou - sem sucesso - utilizar 140 bilhões de euros (mais de R$ 859 bilhões) em ativos russos, em sua maioria mantidos em bancos na Bélgica, para apoiar os esforços de guerra da Ucrânia.

Entretanto, o plano de 28 pontos do presidente Donald Trump prevê que, após o fim do conflito, os EUA liderem a utilização desses recursos nos esforços de reconstrução da Ucrânia. Segundo o documento, Washington ficaria com 50% dos lucros desta atividade.

O ponto causou temor nas capitais europeias, com um ex-funcionário francês afirmando ao veículo que a ideia, pensada pelo enviado especial da Casa Branca Steve Witkoff "é, evidentemente, escandalosa".

"Os europeus estão se esforçando ao máximo para encontrar uma solução viável para usar os ativos em benefício dos ucranianos, e Trump quer lucrar com eles", declarou a fonte, acrescentando que "é provável que essa proposta seja rejeitada por todos".

Uma oficial senior de Bruxelas zombou da ideia e observou que, independente de seu plano, Trump não tem poder para desbloquear os ativos na Europa. "Witkoff precisa consultar um psiquiatra", afirmou outro político de alto escalão.

Em artigo publicado nesta sexta-feira (21), o Financial Times informou que funcionários da UE prometeram seguir adiante com seu plano de usar ativos russos congelados para um empréstimo de 140 bilhões de euros a Kiev. No entanto, a iniciativa americana poderia "torpedear" todo o projeto, segundo o jornal.

"Nesse caso, os Estados Unidos se beneficiariam às custas tanto da Europa quanto da Ucrânia", escreve o FT. Um funcionário indicou ao portal que era quase como se o texto tivesse sido redigido como "uma provocação deliberada".

Empréstimo

Em setembro, a Comissão Europeia propôs conceder um "empréstimo de reparação" de 140 bilhões de euros à Ucrânia, financiado com os ativos russos congelados, segundo informou a imprensa. De acordo com a proposta, Kiev devolveria o valor assim que a Rússia pagasse as reparações decorrentes do conflito, uma ideia consistentemente rechaçada por Moscou.

No entanto, a decisão sobre o confisco foi adiada até dezembro devido à oposição da Bélgica, receosa em assumir todo o risco que a medida poderia acarretar.

Moscou rejeita firmemente

A Rússia advertiu reiteradamente que o país "responderá adequadamente às tentativas de roubar seus bens", classificando as ações da Comissão Europeia como "uma fraude flagrante".

Além disso, alguns líderes da UE reconhecem ser improvável que a Ucrânia pague suas dívidas. O "longo histórico de corrupção" do país também levanta dúvidas entre os Estados europeus, notadamente na forma que Kiev utilizará os recursos.

Moscou compartilha da mesma perspectiva. "Esta aventura apenas prolongará a agonia do regime de Kiev, que perdeu sua legitimidade e não receberá nenhuma reparação da Rússia. Não poderá pagar suas dívidas", afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova. O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, por sua vez, disse que quanto mais o Ocidente gastar para apoiar o regime ucraniano, mais "aterrador" será o fim dos "palhaços sangrentos de Kiev".