A Rússia vê negativamente "a perda de moderação e prudência" na Europa, o que apenas aumenta e agrava as tensões entre as partes, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, comentando as declarações do CEO da Airbus, René Obermann, que sugeriu a aquisição de armas nucleares táticas para contrariar a Rússia.
Em declarações à imprensa nesta quinta-feira (20), o porta-voz considerou "evidente" que cada vez mais europeus "estão perdendo a moderação e a prudência em suas abordagens" e, portanto, "fazem declarações provocativas e pedem medidas adicionais que aumentam e agravam as tensões".
Enclave continental
Durante a Conferência de Segurança de Berlin, na quarta-feira (19), o CEO da Airbus, René Obermann, impeliu os países europeus a adquirirem armas nucleares táticas em resposta à "ameaça" representada pelos mísseis Iskander russos implantados na província de Kaliningrado, um enclave russo circundado pela Lituânia, Polônia e o Mar Báltico.
"Precisamos considerar rapidamente, juntamente com nossos parceiros franceses e britânicos, como podemos aumentar nossas capacidades também no âmbito da dissuasão nuclear e reduzir a lacuna no domínio das capacidades nucleares táticas", afirmou o empresário alemão, citado pelo periódico Bloomberg.
Peskov reafirmou a posição russa contra o alarmismo irresponsável da Europa.
"Rejeitamos essa atitude. Kaliningrado é parte inseparável da Rússia. E, no contexto do que está acontecendo e da situação vigente na Europa, a Rússia está, naturalmente, fazendo tudo o que é necessário para garantir sua segurança, estabilidade e previsibilidade."
Alimentando a histeria
O Kremlin tem reiteradamente enfatizado que não há qualquer intenção de atacar nações ocidentais. O presidente Vladimir Putin, durante o 22º Fórum Internacional de Discussão de Valdai no início de outubro, descartou a ideia como "absurda".
"As elites governantes da Europa continuam alimentando a histeria. Acontece que 'a guerra com os russos está logo ali'. Eles repetem esse absurdo, esse mantra, repetidamente. Sinceramente, às vezes observo o que dizem e como dizem, mas será que eles realmente acreditam nisso?", enfatizou.
O presidente já havia ressaltado, durante uma coletiva de imprensa em Minsk, na Bielorússia, que o país planeja cortar gastos militares, em oposição à tendência de crescimento promovida pelos países da OTAN.
"Então, toda essa conversa sobre como eles vão elevar o nível... bem, que o elevem. Mas isso não vai melhorar a situação de segurança para eles e, inevitavelmente, vai piorá-la nas esferas econômica e social", disse Putin, citado pelo Interfax.
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