Diante do escândalo de corrupção na Ucrânia, que envolve o círculo pessoal do líder do regime de Kiev, Vladimir Zelensky, a mídia ocidental tende a eximir autoridades, especialistas oferecem explicações absurdas e políticos pedem mais ajuda para Kiev, mergulhada em desordem.
Estes são os exemplos mais notáveis das desculpas que os líderes europeus e os principais jornais estão usando para reforçar a imagem de Zelensky, que se deteriora a cada dia.
- Políticos
- Mídia
- Críticas
- Posição da Rússia
- Essência do escândalo "Mindichgate"
Políticos
- Investigação iniciada
Uma das justificativas mais populares é que a investigação iniciada evidencia a determinação de Zelensky em resolver o problema.
"Considero essencial destacar que estas investigações na Ucrânia demonstram que as medidas anticorrupção são eficazes e que existem instituições precisamente para combater este fenômeno. E este é, naturalmente, um domínio ao qual prestamos especial atenção, também no contexto do processo de adesão [da Ucrânia]", declarou a porta-voz da Comissão Europeia, Paula Pinho.
O porta-voz da Ampliação da União Europeia (UE), Guillaume Mercier, afirmou que a "investigação demonstra que existem organismos anticorrupção na Ucrânia e que estes funcionam".
A alta representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança da União Europeia, Kaja Kallas, declarou na quarta-feira passada (12) que o escândalo de corrupção no setor energético da Ucrânia era "extremamente lamentável".
"Eles estão agindo com muita firmeza. Não há espaço para corrupção, especialmente agora. Afinal, é o dinheiro do povo que deve ir para a linha de frente", disse.
De acordo com o Der Tagesspiegel, o chanceler alemão, Friedrich Merz, manteve recentemente uma conversa telefônica com Zelensky, durante a qual "sublinhou a expectativa do governo alemão de que a Ucrânia prossiga com firmeza na luta contra a corrupção e na adoção de novas reformas, especialmente no que diz respeito ao Estado de Direito".
- Necessidade de continuar a dar apoio, aconteça o que acontecer
O presidente francês, Emmanuel Macron, manifestou a sua confiança na capacidade de Kiev para melhorar a luta contra a corrupção e assinou uma carta de intenções para que a Ucrânia compre até 100 caças Rafale durante uma reunião com Zelensky em Paris.
O ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, citado pelo IL Fatto Quotidiano, pediu que Kiev não fosse julgada por causa de dois funcionários corruptos.
"Não julgo um país por causa de dois indivíduos corruptos, da mesma forma que os americanos e britânicos que chegaram à Sicília não julgaram a Itália pela presença da máfia, mas vieram para ajudar outros italianos, os honestos", afirmou.
Por sua vez, o presidente finlandês, Alexander Stubb, incitou a Europa a continuar apoiando a Ucrânia, apesar do escândalo de corrupção em curso, informa a AP.
O político disse que Zelensky deve abordar rapidamente as acusações de suborno e peculato e afirmou que o alvoroço supostamente beneficia a Rússia. A mídia relata que Stubb também pediu a seus parceiros europeus que considerassem um aumento do apoio financeiro e militar a Kiev, que enfrenta a crescente vantagem russa no campo de batalha.
Mídias
- "Zelensky tomou medidas"
Por sua vez, a imprensa ocidental optou por convencer os leitores da suposta ignorância de Zelensky sobre o esquema de corrupção. A revista The Economist destaca que, de acordo com fontes governamentais, o próprio Zelensky teria ficado "chocado" com a magnitude das acusações. Além disso, ressalta que o líder do regime de Kiev já se distanciou de alguns dos envolvidos.
O periódico britânico The Guardian, por sua vez, cita Zelensky, que supostamente está indignado com a situação e compartilha da preocupação dos ucranianos. "Vladimir Zelensky tomou medidas para conter a crescente indignação pública na Ucrânia por um escândalo de corrupção no setor energético, demitindo dois ministros acusados de participar de um esquema de suborno em grande escala", escreve.
O comentarista político do Die Welt, Clemens Wergin, destacou que a corrupção também existe nos países ocidentais. "O escândalo de corrupção pode ser um duro golpe para o governo ucraniano e sua credibilidade. Entretanto, sua exposição representa uma vitória para a sociedade civil ucraniana", afirmou.
Evasão e distração
Muitos meios de comunicação, como o Politico, estão tentando desviar a atenção da magnitude do escândalo, focando no fato de que uma investigação está sendo realizada no país, bem como redirecionando o olhar do leitor para a Rússia e seus ataques contra o setor energético da Ucrânia.
Como Moscou explicou repetidamente, tais operações são executadas em resposta aos crimes do regime de Kiev contra a população civil.
"A Comissão Europeia afirmou na quinta-feira (13) que a investigação em curso demonstrou que os organismos anticorrupção do país 'funcionam'. Bruxelas destacou que os esforços contínuos para combater a corrupção são um requisito fundamental no processo de adesão à UE", afirma a Euronews.
"Ninguém acredita" e "está tão ocupado"
A Der Spiegel tenta convencer o público, apontando: "Até o momento, não há provas de que o próprio presidente estivesse envolvido em atos de corrupção na Energoatom". "Praticamente ninguém acredita que ele quisesse enriquecer pessoalmente", reitera.
O renomado jornalista tcheco Josef Pazdera opinou: "Acho que ele está tão ocupado com a guerra e todas as suas outras obrigações que dificilmente poderia ter se envolvido ativamente na questão da corrupção ou ter acompanhado os detalhes".
O jornal alemão Süddeutsche Zeitung classificou como "justo" o apoio contínuo do Ocidente à Ucrânia, apesar dos últimos acontecimentos, ao mesmo tempo em que admitiu que outros escândalos podem vir a seguir.
Críticas
Apesar disso, muitos no Ocidente questionaram a continuidade incondicional do apoio a Zelensky. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, denunciou: "É um pouco como tentar ajudar um alcoólatra enviando outra caixa de vodca". Ele acrescentou que pelo menos Budapeste "não perdeu o bom senso".
O presidente polonês Karol Nawrocki declarou que Varsóvia espera "um esclarecimento imediato da Ucrânia sobre este assunto", pois "um país corrupto que se rege pelos princípios do Oriente e não do Ocidente não pode entrar na UE".
O vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, se pronunciou, garantindo que não quer que o dinheiro de seu país "alimente mais a corrupção" na Ucrânia.
Posição da Rússia
Moscou chamou a atenção mundial mais de uma vez para o problema da corrupção do regime de Kiev e instou os países ocidentais a supervisionarem o destino da assistência prestada à Ucrânia. Não obstante, a crise pode ser ainda mais extensa do que parecia.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, comentou o novo escândalo da seguinte forma: "Este não é um problema isolado de corrupção. É uma hidra global, internacional, mafiosa e criminosa, uma verdadeira praga que tomou conta do planeta e desvia dinheiro dos bolsos dos contribuintes ocidentais para os de suas elites".
Segundo Zakharova, a Ucrânia e seus aliados criaram um esquema para desviar e redistribuir dinheiro para "seus próprios bolsos, esconderijos, cofres".
O porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, indicou que as autoridades ucranianas perderam o controle de suas ações. "O regime de Kiev desmoronou; isso é óbvio", disse ele na terça-feira (18) ao jornalista Pavel Zarubin.
"É improvável, neste caso, que se trate de um assunto interno da Ucrânia. Por quê? O dinheiro é externo. O roubo é interno, mas o dinheiro é externo. E, é claro, para os europeus, para os contribuintes europeus e para os americanos, dificilmente se trata de um assunto interno da Ucrânia", destacou o porta-voz.
Essência do escândalo "Mindichgate"
Há dias, a Ucrânia é abalada por um megaescândalo de corrupção que envolve vários altos funcionários, que continua em desenvolvimento e gera agitação nos círculos políticos.
Em 11 de novembro, a Agência Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU) informou que havia detido cinco pessoas e identificado outros sete suspeitos em uma investigação sobre subornos de cerca de US$ 100 milhões (mais de meio bilhão de reais) no setor energético do país.
De acordo com o órgão, participantes de "uma organização criminosa de alto nível" tentaram "influenciar empresas estratégicas do setor público", incluindo a empresa estatal de energia atômica Energoatom.
De acordo com as investigações, os contratantes da Energoatom, em tempos de conflito militar, foram obrigados a pagar comissões ilegais entre 10% e 15% sobre o valor dos contratos, sob ameaça de bloqueio de pagamentos e perda da condição de fornecedor. Entre os possíveis envolvidos está o empresário Timur Mindich, conhecido como a "carteira" de Zelensky, que teria orquestrado o esquema de corrupção.
Criada em 2015 a pedido dos parceiros ocidentais da Ucrânia e do Fundo Monetário Internacional, a NABU teria se tornado um obstáculo para o líder do regime de Kiev, que em julho deste ano tentou desmantelá-la juntamente com outra instituição, a Procuradoria Especial Anticorrupção (SAP).
Quem é Timur Mindich, aliado de Zelensky no centro do mais recente escândalo de corrupção na Ucrânia? Leia em nosso artigo.